Relato Pessoal: Poliana Vogel

Como pode alguém, apaixonada por palavras, de repente, encontrar-se às voltas com as mesmas, sem conseguir organizá-las em forma de relato? Pois é, caro leitor… Acontece! Hoje, vou contar para você uma história de amor, com encontros e desencontros entre mim e a escrita, entre mim e os livros!

Adorei receber a oportunidade de escrever esse relato, mas ao sentar para escrevê-lo… Nada! Ao longo das próximas linhas, você compreenderá um pouco mais sobre esse paradoxo: amo escrever, mas nem sempre me sinto segura para estar imersa nesse mundo: das letras, das palavras, da escrita e da leitura! Essa oportunidade, também, trouxe-me a compreensão da importância que é, para mim, escrever para você, visto que passei a me auto identificar a partir de relatos de outros pares.

Pois bem, te convido a vir comigo para compreender esse paradoxo. Gosto de escrever, mas passei tanto tempo paralisada que comecei a duvidar de minha capacidade para organizar as palavras em textos. Gosto de falar sobre minhas experiências, faz com que eu consiga organizá-las melhor, internamente, e faz com que eu me sinta conectada com outras pessoas que vivem experiências similares e… eu amo pessoas; amo conhecê-las e tenho um desejo enorme de conhecer, cada vez mais, outros humanos, como eu, e suas histórias. Embora eu já tenha passado por muitas situações onde conhecer pessoas não foi uma experiência tão positiva, pois sofri ataques, dores e sensação de inadequação, esse desejo pulsa dentro de mim.

Uma pausa aqui, pois identifico mais um ponto que me separa da delícia de transmitir minhas vivências para você: a angústia de não conseguir contar tudo. Você pode pensar: “minha amiga, é obvio que você não poderia contar toda a sua história em um texto, não é?” Até é, mas mesmo assim, só vou conseguir escrever após delimitar e esse limite é desafiador para mim. Querido leitor, nos próximos minutos de leitura, você vai acompanhar uma parte da minha história com a superdotação linguística acadêmica. Deixarei de fora, aqui, a outra área de minhas altas habilidades, a liderança; como eu amo escrever, é provável que eu escreva sobre ela também; porém, hoje, trarei alguns recortes de como foi minha vida com essa condição de funcionamento cerebral e mental, permeada por um desejo profundo de contato com o universo linguístico e por um afastamento estratégico de proteção à minha sobrevivência.

Quero apresentar os personagens da minha história de hoje para vocês:

Eu: Poliana, desde a infância, convivo com vários medos e angústias, dentre os quais se destacam o medo de perder pessoas que amo e a angústia de ser excluída, também já me senti insegura, magoada e destilei algumas doses de raiva por aí. Apesar disso, sempre me identifiquei com aquela Poliana do Livro da Eleanor Porter, alegre, cheia de vida e de esperança, com uma mania incorrigível de ver as coisas como potenciais positivos e, desde bem cedinho, apaixonada pelos livros e por seus conteúdos.

Os livros: peço que quando ler a palavra livros, imagine tudo o que rodeia esse universo: aquisição de conhecimento, emoção através da leitura de um lindo romance, desenvolvimento da escrita e por aí vai…

Pessoas dificultadoras do caminho: você verá que trarei, em alguns trechos, informações sobre interações nada positivas que já vivi, com pessoas que foram agressivas em relação as minhas características ou insensíveis às minhas dores. Gostaria de fazer um pedido, aqui, se possível for, não as julgue! Até porque, eu já fiz isso, bastante! E fiz ainda pior, convenci outras pessoas a me ajudarem a julgá-las! Hoje, não sinto mais essa necessidade e, reavaliando os acontecimentos, noto que todos estamos sujeitos a machucar uns aos outros, mesmo sem perceber! Penso que quanto menos perpetuarmos atitudes de julgamentos, menos resistência colocamos no processo de melhor convívio social.

Pessoas auxiliadoras do caminho: aquelas que me deram e dão a mão, que me incentivaram, clareando minha visão sobre mim mesma, sobre as pessoas e sobre o mundo que me cerca. Aquelas que acreditaram e que acreditam em mim, corrigindo os erros com carinho e elogiando as minhas potências. Sem essas pessoas, creio que a vida tornar-se-ia muito difícil, se não inviável.

O emaranhado: as pessoas dificultadoras são sempre dificultadoras? As pessoas auxiliadoras são sempre auxiliadoras? A mesma pessoa nos auxilia em um aspecto, dificulta-nos em outro? Pois bem, na minha história, as pessoas que encontrei pelo caminho ocuparam os dois lugares, auxiliaram aqui e dificultaram ali, muitas vezes.

Feitas as apresentações, decidi organizar essa história em pequenas partes e de forma cronológica, vamos lá?

Dos 03 aos 07: os primeiros flertes!

Não, não são tantas as lembranças dessa fase, mas foi uma época em que apareceram os indícios do romance que se seguiria pelos próximos anos; algumas das mais vívidas lembranças que trago da infância, relacionam-se com livros.

Há uma informação da qual não me lembro; ninguém se lembra: como e quando aprendi a ler. Descobri isso apenas no ano passado, pois me lembro de chegar no processo de alfabetização já sabendo ler e, ao questionar meus pais e tias com quem convivi, ninguém soube explicar! Portanto, esse primeiro encontro ainda é um mistério!

As primeiras lembranças que tenho são de aproximadamente aos três anos; na casa da minha avó, sentada em cima da mesa da sala que tinha uma toalha branca de renda, com vários livros ao meu entorno e bem feliz!

Mais à frente, com 07 anos, tenho claras e emocionantes memórias. Já no primeiro ano escolar, eu me lembro que me sentava bem em frente à professora, que sempre usava saias até os joelhos e o cabelo preso em um bonito coque; ela apresentava, à turma, as letras, depois as sílabas e, então, as múltiplas combinações destas para formarem as palavras. Consigo lembrar de como isso me fascinava, mesmo eu já conhecendo as letras e algumas sílabas, naquele momento eu estava em um lugar onde passaria a conhecer cada vez mais! Essa professora organizava um exercício de incentivo à leitura e à escrita: um concurso de palavras; todas às sextas, ao final da aula, tínhamos um tempo para escrever o maior número de palavras que conseguíssemos. O aluno que escrevesse mais palavras ganhava um prêmio: um lápis, uma borracha, um apontador ou uma caixinha de chicletes. Eu ganhei todos e, como se não bastasse, minha coleguinha de trás começou a me pedir ajuda. Então, passei a fazer o meu e um pedaço do trabalho dela; sempre um pouco a menos do que o meu, é claro, assim ela ficava com o segundo lugar.

Essa memória já teve alguns pesos diferentes para mim; aos 07, alegria! como era incrível descobrir novas palavras e ganhar um prêmio por escrevê-las! A partir da adolescência, vergonha! Como eu pude ser tão egoísta e ganhar sempre, sem permitir que outros colegas ganhassem também? Na fase adulta, compreensão! Nunca foi uma competição justa! Eu já sabia ler e nasci com essa capacidade de funcionamento cerebral que traz maior velocidade e complexidade de associações, portanto, eu e meus colegas não saíamos do mesmo ponto nem nas mesmas condições. Aqui, já trago uma reflexão sobre a importância da identificação de um superdotado; para ele ou ela e para os colegas com quem convive porque, como você verá mais adiante, essa diferença não compreendida tornou-se um problema futuro.

Aos 08: adorável enciclopédia Barsa!

Certo dia, aos 08 anos, cheguei na escola e a professora havia faltado. Fui ao quadro e brinquei de explicar a matéria. A diretora entrou na sala, viu o que estava no quadro e percebeu que estava correto; olhou um caderno e observou que aquela matéria ainda não havia sido ensinada. Veio até mim e perguntou com quem eu havia aprendido; respondi que foi com o livro, eu tinha o hábito de ler os livros didáticos, assim que os recebia no início do ano. Lembro-me dela conversando com meus pais e me fazendo algumas perguntas e isso foi o mais próximo que eu cheguei de uma identificação das minhas habilidades antes dos meus 33 anos. Para meus pais, que precisavam trabalhar muito para nossa sobrevivência e tinham muitos problemas para resolver, a investigação da diretora trouxe um alívio, “Ufa! Ela vai bem na escola, não precisamos nos preocupar com isso”. A partir desse dia, as visitas deles à escola não foram muitas. Não havia tempo nem dinheiro, nem em minha família nem na escola, para estimular ou apoiar um maior desenvolvimento para mim. O que tinha era usado, apenas, para a solução de problemas e de demandas maiores. Realidade de uma menina, com poucas condições financeiras, do interior (cidade com cerca de três mil habitantes).

Mas essa parte da história não é triste, pelo contrário, é um dos mais belos trechos! Apesar de não haver forte apoio ao romance, não havia impedimentos; apenas, alguns desencontros, talvez, que foram contornados facilmente. Em visita a uma amiga, possivelmente entre meus 8 ou 9 anos, avistei um livro na estante da casa dela. O título da obra era: Como as Coisas Funcionam. “Uau!!! Existe um livro que explica como as coisas funcionam? Eu quero ler! Será que vou compreender como tudo funciona?” Pedi minha amiga que me deixasse ler o livro, ela respondeu: “Claro que não, nós vamos brincar!” Nunca li o livro, mas fiquei pensando muito nele! Penso até hoje!

Então, certo dia, ganhei uma coleção da enciclopédia Barsa (se você for muito jovem, você busca ajuda no Google, mas quero dizer que as enciclopédias, da era pré-internet, eram uma das mais incríveis formas de se fazer pesquisa). A coleção que ganhei era um pouco antiga, da década de 70 se não me engano, quando a vi, com muitos volumes, pensei: aqui sim, deve estar todo o conhecimento do mundo! Essa ilusão durou até o dia em que recebi um cartão postal da minha tia, de um país chamado Sri Lanka e, como de costume fui pesquisar na Barsa, e esse país não estava lá. Se você imaginou que minha paixão diminuiu, enganou-se; lembro-me de sentar-me ao chão, rodeada pelas enciclopédias, com muita frequência, sempre curiosa e admirada! Foram anos onde ler, pesquisar e escrever, foram atividades frequentes e prazerosas.

Dos 11 aos 14: Romance, e vida, em perigo:

Esse período foi bem marcante, porque seu final marca um dos momentos mais decisivos da minha vida. O início desse período, aos meus 11 anos, foi leve e prazeroso por um lado. Ao iniciar os estudos em um colégio novo, descobri uma biblioteca, com uma estante cheia de livros e que eu podia trocar de livro sempre que quisesse; pois bem, em pouco tempo, como era uma estante apenas, eu li todos os livros e como foram agradáveis esses momentos. Mas esse hábito, essa sede por conhecimento, não funcionavam muito bem como estratégia para fazer amigos. Ter, sempre, as notas mais altas da turma e, depois das aulas, saber as respostas das perguntas dos professores, fazendo perguntas complexas como devolutiva, bem… isso não me tornou muito popular; pelo contrário, isso contribuiu para que se iniciasse um período de solidão e de bullying, ambos tão disfarçados que ninguém notou! Trancar-me no banheiro durante todo o intervalo; esperar na sala para sair depois de todos, ao final da aula, foram algumas das estratégias utilizadas para tentar fugir de todos os ataques.

Logo eu que amo conversar, como você já deve ter notado, via-me sozinha frequentemente; dava alguns suspiros, quando alguma colega me direcionava um tanto de atenção, que eu agarrava como se fosse a última garrafa de água do deserto. Ninguém sabia das crises de pânico no domingo à noite, por medo de ir à escola na segunda; nem das noites chorando e rezando, enquanto pedia a Deus que me enviasse uma amiga de verdade, uma que realmente gostasse de mim e que não me deixasse sozinha nos momentos difíceis.

Enquanto eu vivia meu drama invisível (tão disfarçado que quando eu o relato, atualmente, para pessoas que conviviam comigo naquele tempo, sou descredibilizada, muitas vezes: “Não é possível, você estava sempre bem!”), os outros adolescentes iam a festas, saiam juntos, faziam confissões uns aos outros. Então, determinado dia, recebi um convite para ir a uma festa. Pensamentos: “Será que é real? Agora deu certo? Eu vou fazer parte!” Muito animada e totalmente vulnerável, eu fui à festa, de onde sai direto para o hospital, quase sem vida, decorrente de excesso de bebida alcoólica, um coma! Ao contrário dos períodos de angústia vividos em segredo, desse evento, todo mundo soube! Não sei relatar o que houve na festa, não me lembro! Ao acordar, perdida, no hospital, fui hostilizada pela enfermeira, que me questionou sobre como fui capaz de fazer “aquilo”. Após a atitude hostil da enfermeira, uma sequência de agressões e mais solidão. Meus pais mantiveram-se ao meu lado, mas outros familiares ainda me atacam, vinte anos depois, por esse episódio; os colegas da festa não fizeram contato comigo, eu, perdida, também não procurei me conectar. Recebi, apenas, uma visita enquanto me recuperava, mas me lembro bem do desconforto dela; notei que a visita não era espontânea, senti com mais intensidade, ainda, a solidão.

Dos 14 aos 20 e poucos: o congelamento protetor!

Para superar essa dificuldade, que tal uma mudança de escola e de cidade? “Pode ser incrível!”, pensei. E, lá vou eu, empolgada, para o primeiro dia de aula; todavia, ao entregar uma redação para uma professora, encontrei, novamente, dois velhos conhecidos: o destaque e o bullying; o primeiro, quando a professora me elogiou muito e se admirou com a minha facilidade para escrever; o segundo, quando encontrei um papel colado na porta da sala, lotado de ataques dos colegas direcionados a mim. Então, eu congelei! “Tem algo de errado comigo, eu não posso ser assim!”

Bem, não há muito o que dizer sobre o romance, nessa época, pois como já disse, eu me mantive afastada, o quanto possível, dos livros, durante muitos anos. O que pode ser curioso é que um tanto da paixão, uma faísca, sempre esteve presente comigo. Se um colega de estudos, de qualquer etapa da minha vida, fosse entrevistado e questionado sobre sua visão da minha relação com os estudos, arrisco-me a dizer que muitos, se não todos, diriam que era uma relação próxima; portanto, só eu sabia que havia um afastamento. Esse afastamento me trouxe uma dor invisível. Eu a senti sozinha, por muitos anos. Aos olhos dos outros, tudo estava bem; dentro de mim, dor, angústia e desespero.

Esse afastamento não era sem motivo. Como disse antes, estar muito próxima das minhas paixões, fazia com que eu me sentisse muito esquisita; acessar minhas paixões era sinal de ficar muito sozinha, afastada dos pares e dos colegas de mesma idade. Então, eu me mantinha segura, afastada dos livros também, assim, consegui aproximar-me dos pares, fazendo o que todos faziam; algumas vezes, sentindo-me bem, outras (muitas) vezes, desconfortável. Externamente, tudo parecia estar 100%, mas eu me sentia totalmente deslocada internamente. Foi uma época em que eu mal sabia de mim, mal sabia o que sentia, passei a maior parte desse período me esforçando para estar no grupo. Acabei pertencendo! Mas a qual preço?

Dos 20 e tantos aos 33: o doloroso afastamento!

“Eu amo livros!” E você poderia me perguntar: “Legal, qual você está lendo?” A resposta seria: “Nenhum…”

Que incoerente! Se tivesse, mesmo, essa paixão, certamente estaria lendo, eu pensava. Então parei de falar sobre o meu amor. Mas parar de falar sobre ele e parar de ler não me fizeram esquecê-lo. Sempre estava faltando algo, meus desejos e minhas ações não eram coerentes. Eu queria estudar, conhecer mais e mais coisas, mantinha o mesmo desejo da menina de 08 anos que ficou hipnotizada pela capa do livro na casa da amiga; o desejo de saber como as coisas funcionavam, e o porquê de elas funcionarem, se fosse possível. Todavia, toda vez que eu tentava dedicar-me mais aos estudos, o mal-estar físico era enorme: taquicardia, angústia, sensação de sufocamento, falta de concentração, seguidos de forte alívio quando eu me afastava do material de estudo.

Foi, então, que decidi pedir ajuda, uma busca para aliviar essas dores e me reaproximar do que me move, minha paixão. Vários profissionais tentaram me auxiliar. Quando eu trazia o imenso desconforto existencial que sentia, rotulavam as minhas falas sobre como eu era na infância e como me sentia no momento como “ego inflado”. Eu acreditava e seguia paralisada. “Para que você quer estudar mais? Só para ser melhor do que os outros!”

Uma criança que leu todos os livros da biblioteca da escola e aprendeu a ler com tão pouco estímulo, aos 03 anos de idade, sem que ninguém se lembre como aconteceu, tornou-se uma adulta que não conseguia concluir um livro porque sente fortes dores e vários desconfortos ao tocar em um; uma adulta que passou anos afastada dos estudos e da leitura. Estranho, não é? Será que o ego inflado causou tudo isso? “Vai ver sim!”, pensei. E segui, assim, por um tempo, sempre tentando compreender e resolver essa questão: Porque eu amava tanto esse universo dos livros, mas não conseguia me aproximar dele?

Até que…

Aos 33: Amor à segunda vista!

Em uma fria manhã de junho de 2020, navegando pela internet, deparei-me com um post, trazendo informações sobre as dificuldades comuns a pessoas superdotadas, identifiquei-me com todas as dificuldades e comecei a pensar melhor sobre isso! Segui minhas pesquisas e encontrei o site da autora da postagem: Patrícia Neumann. Ao abrir o site, deparei-me com a frase: “Nenhum talento a menos!” Essa frase, nossa! Como me fez refletir, profundamente, sobre a importância de passar por um processo de identificação de altas habilidades e sobre como isso poderia contribuir para que eu, finalmente, pudesse reaproximar-me daquela minha parte, há tempos desconectada.

Todo o processo de identificação foi de intenso autoconhecimento. Escolho relatar, brevemente, a você, sobre o dia da devolutiva e os seus desdobramentos. Abri meu notebook, na hora marcada com a Patrícia, estava um pouco ansiosa, mas tinha uma expectativa de resultado positivo. Eu imaginava que ela me diria que eu, até, possuía um nível de inteligência mais elevado em alguma área; provavelmente, na linguística, mas não pensei que fosse compatível com superdotação. Para a minha surpresa, a resposta foi bem diferente! A primeira frase que ouvi foi: ‘Você é, sem sombra de dúvidas, superdotada! Ops! Eu não estava preparada para isso, e agora? O que fazer com essa informação? Pensei, rapidamente, em esconder o resultado, mas eu já havia anunciado para algumas pessoas que faria o teste. Ao encontrar-me com meu marido, eu não sabia como contar. Tive algumas crises de ansiedade, eu sentia que, a partir daquele momento, eu perderia meus vínculos; meu marido e meus amigos não me amariam mais! Uma releitura dos anos de solidão que vivi na adolescência.

Felizmente, foi possível superar esse medo e, hoje, com vínculos mais bem estabelecidos, sinto-me segura para ser quem sou, incluindo minhas limitações e minhas altas habilidades! Tudo! E os meus livros, ah, eles seguem ao meu lado. Não é mais perigoso ser a menina, agora mulher, dos livros! Já é seguro. Será?

Ao pensar em assumir a superdotação, publicamente, mais um desafio foi avistado, tendo em vista tudo o que já foi experienciado: os ataques! Mas espera, os ataques vêm porque há algo errado comigo ou porque ainda vivemos em uma sociedade agressiva? Opa! Mais um ponto aqui! Serei eu agressiva com os outros seres vivos também? Como o processo de autoconhecimento é importante e fundamental para aumentar nossa compreensão sobre nós mesmos e sobre o outro, além de melhorar essas relações, tanto a forma como me vejo, como a forma de ver o outro, trazem-me uma reposta a qual amei!

Após uma Live, na qual abordei o meu processo de identificação com as altas habilidades e discorri, abertamente, sobre como foi minha vida e como me sinto, considerando essa condição de funcionamento cerebral e mental, surgiu o seguinte diálogo interno (partindo de lembranças, pois a frase a seguir já me foi dita algumas vezes na vida):

“Ei, você está se achando, não é!? – vários autores.

“Ah, que bom que você notou! Sabe, eu já estive perdida e é bem desconfortável! Então, eu fui me procurando, até me encontrar/achar! E vou te contar uma coisa: a sensação é ótima! Você deveria experimentar, procurar-se até se achar!”

E, uma vez, mais consciente sobre mim, sobre o mundo e sobre as minhas relações, foi possível retomar o romance, carregado de emoções. Hoje, escrevo esse relato emocionada, com os olhos marejados e agradeço a você, por conectar-se comigo e por acompanhar-me até aqui! Não posso dizer que os desafios acabaram, mas posso dizer que me sinto cada vez mais apta a contorná-los. Assim, meu estimado leitor, podes imaginar que esse romance, agora mais forte do que nunca, certamente continua…

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Sobre Filipe Russo

Filipe Russo é indígena agênere da Associação Multiétnica Wyka Kwara, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012; 2022) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Especialista em computação aplicada à educação pelo ICMC-USP (2022), licenciade em matemática pelo IME-USP (2020). Fundadore e editore do website SupereficienteMental.com (2013-), blog com mais de 180 publicações, dentre relatos pessoais, ensaios e entrevistas, sobre neurodiversidade e superdotação ou altas habilidades. Pesquisadore no grupo de estudos TransObjeto associado à PUC-SP e no grupo de pesquisa MatematiQueer associada à UFRJ. Coautore nas antologias poéticas Poesia Política: vote, Outros 500: Não queremos mais o quinhentismo, poETes: altas habilidades com poesia, Fotoescritos do Confinamento e recebeu menção honrosa pelo ensaio Desígnio de um corpo, na 4º edição do projeto Tem Livro Bolando na Mesa. Filipe possui aperfeiçoamento em Altas Habilidades ou Superdotação: Identificação e Atendimento Educacional Especializado pela UFPel e em Serviço de Atendimento Educacional Especializado pela UFSM (2022).
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Uma resposta para Relato Pessoal: Poliana Vogel

  1. Tati disse:

    Incrível esse relato, parabéns! Obrigada por compartilhar conosco

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