Relato Pessoal: Tatiane Oliveira

Tatiane Oliveira

Tatiane Oliveira

Olá, ao contrário de muitos adoro falar de mim mesma, hahaha, sempre achei que seria um objeto de estudo e minha trajetória serviria para outras pessoas, modesta ela né? Mas vou começar com a última pergunta que foi feita para mim na entrevista para o processo de avaliação para altas habilidades/superdotação: Se você perguntar a si mesma “quem sou eu”, qual é a resposta? Eu sou a Tatiane mil e uma utilidades. Gostaram!? Me resume bem nessas poucas palavras.

Então vamos lá tenho 36 anos, sou casada com um homem maravilhoso há pouco mais de 6 anos, mas nos conhecemos há 15 anos. E sabe como foi? Por uma mensagem texto enviada para o destinatário errado que chegou até mim Rsrsrs em outro momento conto os detalhes. Ainda não temos filhos, mas pretendemos ter, sonho com uma casa cheia de crianças! Resido em uma Chácara no Sul de Minas Gerais há 20 anos.

Sou dona de casa, pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional, especialista em educação especial e coordenação pedagógica, artesã, musicista e recentemente abri meu próprio espaço de trabalho “Multiteliê”, onde ministro aulas particulares, faço artesanatos, dentre outras atividades.

É um prazer estar aqui contando o meu relato ao Blog de um querido que é o Filipe Russo, que sempre me acolheu muito bem nos grupos que participei. Espero que sirva de inspiração e apoio a outros superdotados.

Na infância me destacava por fazer coisas incríveis desde bebê. Minha mãe contava que quando morávamos em uma fazenda eu estava ainda no carrinho, nem andava ainda, eu ficava perto de galinhas e seus pintinhos e como eu não alcançava com as mãos usava os pés para pegá-los os jogava para o alto e os segurava com as mãos. Pensa bem? Como isso sendo bebê?

Aos 2 anos e meio já sabia as letras, identificava na mamadeira e nos letreiros, também aprendi o alfabeto em libras. Certa vez minha mãe foi ao médico e me levou junto e eu estava sentada na sala de espera junto com ela e peguei uma revista e comecei a ler, não sei ao certo qual idade tinha, mas sei que era bem pequena, assim a enfermeira me viu e me levou para um médico me ver. Minha mãe falava que foram feitos testes em mim, os quais não sei informar ao certo como eram e o médico mencionou que eu era superdotada. E essa palavra sempre esteve na minha mente, mas nunca recebi acompanhamento necessário para essa condição. Não acreditava nessa história muito bem, mesmo perguntando várias e várias vezes para minha mãe.

Aos 4 anos já sabia ler fluente. Em casa eu acordava super cedo para assistir telecurso 2000, Pequenas Empresas Grandes Negócios, Globo Rural e também gostava de assistir Globo Repórter nas noites de sexta e Fantástico aos domingos, amava assistir Tom e Jerry, Pernalonga, Pica-pau e acredito por conta da trilha sonora serem de músicas orquestradas, acho que daí surgiu meus interesses musicais.

Adorava ler enciclopédias e dicionários, livros infanto-juvenis, pois era os que tinha na minha casa. Aos 7 anos iniciei nas aulas de órgão popular, aprendi a bordar ponto cruz, costurar e fazer tricô à máquina, muitas vezes o aprendizado veio somente de observar minha mãe trabalhando. Aos 8 já cozinhava, amava as receitas da Ana Maria Braga. Adorava assistir Elo Perdido e tudo que havia dinossauros e escavações. Nessa época queria ser arqueóloga. Auxiliava minha mãe cuidando da sua pequena loja de roupas que tinha na garagem de casa, onde depois foi reformada e ela fez um pequeno comércio de doces e salgados dos quais eu tinha que vigiar sempre. Tinha ódio daquele lugar, pois não recebia nada para trabalhar lá, era muito revoltada, pois era obrigada a fazer várias coisas que não queria e muitas vezes tinha pena de pedir as coisas para meus pais e irmãos, porque eles trabalhavam tanto e achava que o que eu tinha estava suficiente para mim. Quando eu tinha a oportunidade de escolher algo, sempre escolhia o mais barato para não me sentir um peso para eles, já que nasci quando minha mãe tinha 43 anos e minha irmã que era mais nova tinha 12, então eu me sentia um incômodo naquela família que já estava formada e ainda me sentia diferente de todos já que na infância era muito introspectiva. Não gostava da minha aparência, do meu sorriso, me achava muito feia, odiava ser alta e magra. Adorava andar de bicicleta, brincar de boneca, fazia roupas para elas, criar histórias, brincar com crianças mais velhas ou mais novas.

Na escola eu era ajudadora dos fracos e indefesos, dos excluídos, da minoria, eu não podia ver uma criança chorar ou ter dificuldade na aprendizagem ou de fazer amizade que eu fazia de tudo para me relacionar com esses e ajudá-los. Sempre fui boa aluna, caprichosa, decorava as folhas do caderno, mas nem sempre tinha notas boas em todas as matérias, eu adorava todas, mas tinha dificuldade de compreender algumas explicações de alguns Professores, devido ao ensino tradicional. E mesmo sendo assim sofri muito, pois cresci numa inocência muito grande em relação às malícias da vida, colegas escreviam no meu caderno que gostavam muito de mim, mas tinha hora que eu era insuportável. Isso doía lá dentro e eu não entendia porque uma pessoa que ajudava os outros poderia sofrer daquela forma. Certa vez uma Professora de ciências estava ensinando sobre o sistema respiratório e eu havia assistido uma reportagem sobre a apneia do sono e falei para a Professora se ela sabia que existiam pessoas que paravam de respirar quando dormiam. Ela me respondeu assim: “Menina! Se a pessoa parar de respirar ela morre!” E assim todos da sala riam de mim. Assim fui me fechando que até a minha postura ficou ruim, eu queria me esconder.

Sofria muito internamente e não se via preocupação nessa parte. Eu rangia os dentes à noite, que até minhas presas ficaram arredondadas, minha irmã até mencionou que era bruxismo e que era ansiedade infantil, mas como sempre nada foi feito. Fazia barulhos repetitivos com a boca, pois tinha uma pequena separação entre os dentes da frente que deixava minha irmã muito brava comigo. Nunca fui ouvida, só tinha de obedecer. Quando ganhei uma agenda da minha irmã comecei a desabafar com ela, escrevia usando alguns códigos que aprendi na escola, para ninguém saber o que estava escrito e nesta agenda tinha algumas dicas úteis incríveis onde fui aprendendo mais e mais formas de independência.

Nas aulas de educação física eu era muito boa, amava jogar! Gincanas então? Meus olhos brilhavam com tudo que era competição e eu estava lá, dançar nas apresentações, teatros, dentre outros. Educação artística também era uma das minhas paixões e todos meus professores de artes eram excelentes, aprendi muito no ensino fundamental. Agradeço a eles por isso, pois a arte é onde me expresso.

Adorava morar em Santo André, achei que minha vida seria toda lá, mas em março de 2001, com 16 anos, fiquei sabendo que me mudaria. Meu chão caiu quando vi a placa de vende-se na minha casa, ninguém me perguntou nada. E meus estudos? Minhas colegas? Minhas oportunidades de trabalho? Aí me convenceram de que aqui teria minhas primas, irmã, sobrinha e que seria melhor. E infelizmente foi o contrário. Me mudei de uma cidade urbana para uma cidade rural e minha casa era em um Sítio, não tinha nada ao redor, morava só com meus pais. Quando chovia não tinha jeito de ir à escola e eu chorava. Eu era apaixonada por matemática, queria seguir exatas, mas por conta das aulas de um determinado Professor eu passei a odiar e fui mal, nesse ano fui com várias notas vermelhas e quase reprovei de ano, Professores muitos ruins, não tinham empatia, sofri muito, minha irmã falava que era pra eu sair da escola, porque não ia dar conta. Doía lá no meu ser isso. Eu não tinha muitas roupas e as que tinha eu customizava, porque as meninas daqui se vestiam muito bem, minha irmã certa vez falou para minha mãe que eu me vestia igual “mendiga” (e nem era tanto assim) minha mãe mesmo sem condições fez uma dívida imensa comprando roupas melhores para mim. E sabe o que isso me fez? Uma compradora compulsiva e extremamente preocupada com a aparência.

Eu não queria crescer, quando iniciaram aparecer os sinais da puberdade eu chorava, até pedi a Deus para parar. Eu amava brincar e como era muito alta minha mãe falava que eu era “moça” e não podia ter certos comportamentos infantis, certa vez eu fui na festa da minha prima, e tinha uma piscina de bolinha e eu morria de vontade de entrar numa daquelas e minha mãe não deixou porque eu era “moça” ah que ódio de crescer!!!!!!! Eu também não entendia sobre os relacionamentos sexuais, prevenção de gravidez e doenças tinha muita dificuldade disso. Fiz uma redação na escola uma vez que ficou até legal, como se fosse um folheto informativo, mas foi o que eu havia entendido na aula, que para se prevenir gravidez deveria estar menstruada. E outras colegas minhas que conviviam com gravidez na adolescência entendiam muito mais sobre o assunto, nesta parte vemos a assincronia, muita facilidade de aprendizado, mas não havia maturidade para certas coisas. Depois da agenda fui escrevendo meus desabafos nos diários, já que ninguém perdia tempo em me ouvir, meus pais queriam me controlar o tempo todo de todas as formas, e mesmo tentando conversar com meus irmãos e irmã mais velhos ninguém se importava. Ficava trancada no meu quarto ouvindo minhas músicas, dançando, tentando por alguns momentos ser eu mesma.

Na adolescência quis ter muitas profissões: caixa de supermercado, patinadora do Carrefour, ginasta olímpica, jogadora de basquete, arqueóloga, dentista, estilista, arquiteta, publicitária, médica, enfermeira, dentre outras. A única coisa que nunca quis ser era ser Professora e foi o que me tornei com a pedagogia e é uma Profissão que realmente é a minha vocação, mas me dedicarei ao empreendedorismo neste momento que também é voltado para a educação, mas com uma proposta diferenciada. Também desejo cursar neurociências e quem sabe um dia medicina na área de psiquiatria, mestrado e doutorado.

Fiz técnico em enfermagem em 2005/2006, queria fazer um curso federal, mas não tinha condições de pagar nem o vestibular, aí resolvi fazer esse curso, pois queria estudar medicina ou enfermagem. Fui toda feliz estudar, era ótima aluna, mas tinha uma Professora que não gostava de mim, ela chegou até falar que pessoas que fazem muitas coisas não são boas em nenhuma e eu pensava nossa será que eu sou tão ruim assim? Uma “amiga” concorria comigo nas notas e o tio dela que era Professor cobrava dela notas melhores que as minhas. Haviam muitos teatros e aulas práticas e eu me destacava muito lá.

Em 2006 ganhei uma bolsa de estudos de enfermagem pelo Pro-uni em Santo André, e achei que meus irmãos me chamariam para morar lá, somente minha irmã me chamou, mas a casa dela era pequena e eu ia incomodar muito, aí desisti da bolsa. Chorei por meses e cheguei a pensar que nunca ia realizar um curso superior. Até que em 2007 fiz novamente o Enem e tirei uma nota bem baixa, chorei rios, pensei que com aquela nota não conseguiria uma bolsa, até que recebi um e-mail onde eu tinha conseguido uma bolsa com a minha 2ª opção Pedagogia, pulei de alegria e felicidade.

Resumindo, no curso de Pedagogia li sobre as inteligências múltiplas e pensei: “Puxa, parece que tenho todas elas, mas não posso contar para ninguém, vão pensar que estou “me achando!”, e vindo a pesquisar me enquadrei em muitos critérios das altas habilidades e passei numa busca incessante de autoconhecimento. Nas pós-graduações também lia sobre o fenômeno das altas habilidades/superdotação, passei a me interessar mais, só que nunca contei pra ninguém, sempre me senti incompreendida, com pensamentos amplos e resoluções rápidas para quaisquer problemas que me aparecessem e as pessoas pareciam não saber conversar comigo, e eu acabava ficando isolada, mas eu sempre me senti tão legal, tão flexível, sabia conversar de tudo um pouco, mas ser diferente incomodava demais.

Atualmente, gosto muito de estudar e estar aprendendo, mas agora estou colocando em prática minha experiência e vivência no Multiteliê, já que no serviço público eu não tive autonomia, tive perseguições, assédio moral e onde eu estava incomodava, e sei que ainda irei criar algo maior e ajudar muitas pessoas.

Estou como aluna especial de mestrado de uma Universidade próxima daqui, e está sendo muito bom, uma ótima oportunidade de estudo para desenvolver minha inteligência acadêmica intelectual, também consegui a oportunidade de ser aluna ouvinte da UNICENTRO da disciplina de Altas habilidades/Superdotação na prática transdisciplinar com uma Professora que depois que me apresentei na primeira aula falou do fundo musical do meu ateliê, faz mais de ano que tenho esse fundo e nunca houve comentários a respeito, principalmente dos meus superiores, é triste se sentir invisível e sem ser acolhido, mas quando isso acontece é maravilhoso. Há muitos anos tento mestrado, mas o medo é maior, mas agora que estou melhor e através de terapia, convivendo com outros superdotados e tendo uma vazão para meus talentos me sinto mais forte do que nunca.

Umas das situações mais difíceis que tive foi no trabalho, onde sempre me destaquei e despertei inveja de colegas, não porque queria aparecer, mas tinha facilidade de aprender e acabava que saía tudo muito bem feito, mas antes de conseguir um trabalho, o que foi bem difícil, passava em comércios pedindo emprego, nunca ninguém me contratou, mesmo tendo experiência com comércio as pessoas olhavam para minha aparência, eu me vestia muito simples e aqui onde moro eles reparam muito nisso, mas eu não tinha condições de me vestir melhor, era o que eu podia. Sabe o que eu já fiz? Fui vendedora de artesanatos, de loja, de bombons, manicure, vendia verduras na rua, buscava vacas no pasto para meu pai a cavalo, participava de feiras de artesanato, vendi sorvete e chupa-chupa na porta de casa, assim que eu me virava para ter um pouquinho de dinheiro.

Trabalhei na saúde por 8 anos, pois passei em 1º lugar no concurso da Prefeitura daqui e em 2014 resolvi exonerar o cargo e ir para a educação, para outro concurso que havia passado a partir daí a perseguição na minha vida profissional começou a ficar pior, raras pessoas gostavam de mim, pois me achavam metida, dona da verdade, aquela que sabe tudo, etc., achava que na escola seria mais acolhida e foi o contrário. Uma diretora falou pra mim que não tinha perfil para educação que eu deveria estudar artes, mas provei totalmente o contrário. Em 2017 tive o desafio de lecionar para uma sala multisseriada com alunos de pré de 5, 1º , 2º, 3ºs anos. Nunca havia tido uma sala de aula e essa foi a única que sobrou para eu pegar. E fui com gosto, no primeiro dia que vi crianças de várias idades juntas me deu medo, mas realizei um excelente trabalho e descobri que era professora alfabetizadora. Fui muito feliz nesta escola.

Em 31/07/2017 comecei lecionar para um primeiro ano na parte da tarde e a diretora falou que era pra eu ter cuidado com eles, pois estavam sentidos, já que havia trocado de professora 2 vezes naquele ano. Pensei comigo vou levar meu violão e começar a aula com uma música, assim fiz, chegando na porta da sala a diretora me viu e falou que naquela escola não usava música como ferramenta pedagógica (foi como jogar um balde de água fria em mim) e ela falou como você trouxe hoje pode tocar, mas não deve trazer mais. (mesmo assim levei escondido haha), mas esta diretora não compreendia minha alegria, energia, e vontade de trabalhar e fazer aulas diferentes, me chamava de acelerada, hiperativa, que era pra eu sossegar e sempre me advertia em algo sem sentido, juntamente com a supervisora que tinha o ensino muito engessado e tradicional. Isso acabou com meu psicológico, fiquei nesta escola até fevereiro de 2019, adoeci mentalmente, o que fez com que em 2018 eu procurasse uma psicóloga e falei dessa condição (na qual eu já me autoidentificava superdotada) e ela me encaminhou para a UNIFENAS, Universidade de Alfenas, onde fiz testes para superdotação, os testes realmente mostraram uma sugestão para altas habilidades/superdotação, mas que não foi muito conclusivo, ainda me restaram muitas dúvidas, sem contar que meu QI deu 113, que para muitos é baixo, mas sabemos que na atualidade QI não define superdotação e isso também foi algo que me encucou.

Assim no ano de 2019 fui nomeada numa cidade vizinha num concurso que havia passado e desenvolvi um trabalho com excelência, atividades diferenciadas que nivelaram todos os alunos fracos e fez os alunos com maiores potenciais ficarem cada vez melhores e motivados nas aulas (descobri nas aulas da UNICENTRO que essa era uma prática denominada Pedagogia Compleza). Tinha um autista na sala, que no pré de 4 e 5 anos quase não adentrava a sala de aula, que ninguém nunca havia dado atenção, mesmo tendo professora de apoio, o vi como um verdadeiro desafio, alfabetizar um autista. Estudei muito, li vários artigos, materiais etc. e fui orientando o aluno com atividades totalmente diferenciadas, juntamente com os demais, os mesmos faziam a mesma coisa, fui até elogiada no Simpósio de Educação do IF Sul de Minas pelo meu trabalho que se enquadrava nas Metodologias Ativas na Educação Especial que até então não conhecia. Percebem o quanto minhas práticas estavam além do que era conhecido?

Assim, esse trabalho muito bem feito que estava fazendo, despertou inveja na minha colega do outro 1º ano, na professora de apoio, nas diretoras, coordenadoras e algumas professoras de tantos elogios que recebia. Muitas vezes eu tinha que fazer um teatro na sala pra apaziguar o aluno autista que era agressivo, batia em mim, nos colegas, na professora de apoio e eu não tinha o apoio da família muito menos da escola. E mesmo assim fiz meu melhor, quase alfabetizei este aluno. E mesmo tendo psicóloga, neuropsicopedagoga e fono na escola elas não faziam nada para lidar com o descontrole do menino e nem me davam orientações. Aí o que aconteceu? Usaram minhas práticas diferentes contra mim, distorcendo o que eu estava fazendo, me caluniando e a mãe desse aluno veio revoltada perante mim e a escola aproveitou dessa oportunidade e ajudou a mãe a fazer uma denúncia e fui afastada da escola por 4 meses, processada disciplinarmente, tive prejuízos financeiros, físicos e psicológicos, meus alunos sofreram, choraram muito, os pais ficaram revoltados, pois a escola não aceitou meu plano de aula para dar continuidade ao meu trabalho e me dispus em fazê-lo e mandar toda semana.

Assim no final das contas, fui condenada (uma palavra, que me dói muito em dizer), e eu levei 171 provas a meu favor e o advogado que arrumei não serviu para me livrar disso, mesmo sem ter provas contra mim fui colocada no CRAS para trabalhar dando aulas de oficinas e tive meu salário suspenso neste mês. Precisava de um horário mais flexível, pois iria assumir o cargo de supervisão e precisava disso para pagar os 4 mil reais para o advogado e a coordenadora não quis alterar os horários (e ela podia, pois nem tinha começado as aulas) sendo assim adoeci mentalmente novamente e só chorava indo para aquele lugar sem entender o porquê disso tudo. Meu esposo falou que não aguentava mais me ver daquele jeito, sofrendo e se eu conseguisse pegar supervisão aqui era pra eu sair. Assim tomei a decisão em 17 de fevereiro de 2020  de pedir demissão do meu cargo e assumi o cargo de supervisora aqui na minha cidade, fiquei bastante feliz, fui bem recebida, apesar que é bem difícil ser supervisora e trabalhar com alguns dos meus próprios professores do ensino médio, mas depois comecei a sofrer assédio moral novamente, ser atacada em reuniões pedagógicas sem motivo e comecei a adoecer e meu rendimento caiu (suspeito de ter burnout), aí decidi pedir demissão e abrir o meu próprio espaço de desenvolvimento de talentos e potenciais.

Procurei ajuda por muitos anos, mandando e-mails, pesquisando sites e blogs, me sentindo incompreendida e muito injustiçada, procurando entender o porquê de uma pessoa com tantos talentos ter sido tratada dessa forma, até que tive um e-mail respondido pela Lexandra Rodrigues e depois encontrei a página da Patrícia Neumann no facebook que me ajudaram muito. Aos poucos venho aprendendo a me autorregular, a ansiedade vem melhorando depois da demissão e espero que meu ateliê cresça e eu venha a ajudar cada vez mais pessoas.

Tive muitas dificuldades com pares profissionais, antes eu batia de frente quando não concordava com algo, mas hoje ignoro, porque não vale a pena. Fui até demitida de um outro trabalho por criticar construtivamente a forma de ensinar e alfabetizar de uma Professora, sendo que fui orientada pela própria coordenadora que era para fazer isso, na época era tutora de um curso EAD de Pedagogia, nesse trabalho também sofri assédio moral diversas vezes, e mesmo contando para a coordenadora da minha condição não fui aceita. Até que eu comecei a fazer lives educativas e postava na página do curso e eles me removeram de administradora e percebi o tamanho do incômodo que eu causava. Então eu incomodava, minhas falas, meus trabalhos, meus conhecimentos, meu jeito de ser. Costumam falar para mim que onde estou brilho e meu brilho incomoda. Não sei se é isso exatamente como as pessoas me veem, me sinto como uma “pedra no sapato”, uma concorrência, às vezes pensam que quero altos cargos, mas sabe o que gosto? De pôr a mão na massa, da prática, ficar nos bastidores não é comigo. Aos poucos estou aprendendo a lidar com isso.

Em junho deste ano tomei outra decisão: pedi demissão do meu serviço de supervisora, pois estava sofrendo assédio moral e ataques verbais repetidamente de alguns integrantes da escola.  Se eu não fizesse isso ia adoecer mais e mais, mas foi tão bom! No começo tive um misto de alegria e medo, mas houveram muitos benefícios: a ansiedade desapareceu, raramente sinto, estou me permitindo mais, cuidando mais de mim e economizando, pois depois de receber tantas críticas da aparência e maneira de vestir me tornei “compulsiva por comprar”. E a melhor de todas: Abri meu próprio espaço de trabalho, finalmente me tornei empreendedora. Estou no início ainda, mas muito feliz e cheia de energia para o que der e vier.

Amizades & Amores

Gostava de alguns meninos na infância, comecei a gostar de um loirinho dos olhos azuis, mais velho que eu, que era bem inteligente, mas nunca declarei, adorava brincar com ele e vê-lo tocar pandeiro na igreja, foi amor platônico. Depois aos 9 comecei gostar de outro, um branquinho de cabelo liso, mas também amor platônico, fiquei muito magoada quando uma amiga me disse que ele queria sair com ela e ela falou que só não saiu porque eu gostava dele. Achei isso péssimo e comecei a ter dificuldade de amizades, pois via a falta de sinceridade e fidelidade nas pessoas. Escrevi essa poesia quando isso aconteceu:

Lamentações (02/08/99)

A tristeza invade meu coração,

O vazio existe em mim,

Quando soube que não me amava,

Meu coração se quebrantava,

Minha vida se acabou,

Meu coração triste ficou,

Pensei que iria ser feliz,

Acabei me tornando infeliz.

Tudo que estava a minha volta

Ficou escuro,

O céu se tornou negro,

E o sol vermelho de sangue,

De noite, as estrelas eram lágrimas,

Lágrimas de tristeza,

E a lua, oh! A lua, olhava pra mim

Como se fosse o fim.

Por causa disso aprendi uma lição,

Nunca mais vou me apaixonar,

Para nunca mais triste ficar,

E para não magoar meu coração.

As flores pareciam chorar,

As árvores queriam me consolar,

Como estava tão triste, tão triste,

Que parecia que ninguém existia.

Meu único pensamento era você,

E a única coisa que queria neste mundo

Era nunca mais te esquecer.

Profundo não é mesmo? Escrito por uma adolescente de 14 anos, aí neste texto já sentimos a intensidade profunda: a famosa sobre-excitabilidade, que aprendi há pouco mais de 1 ano, onde vemos um excesso nas palavras, mas que realmente demonstra meus sentimentos naquela época.

Depois disso gostei de outros meninos, mas nunca passou disso, tinha dificuldade de contato com pessoas, como abraços, beijos e etc., minha família não tinha essas demonstrações de afeto. As meninas da minha sala sempre queriam me obrigar a ficar com alguém e para mim ficar era algo muito fútil, para mim tinha que pelo menos sentir algo pela pessoa e conhecê-la melhor. Até que com 17 anos o rapaz que eu gostava me deu um selinho, me senti nas nuvens, fiquei pensando nisso todos os dias, mas nunca namoramos, até porque ele era bem “mulherengo” e mesmo que ele gostasse de mim eu nunca o namoraria, queria que meu 1º namorado fosse alguém que eu pudesse confiar. Depois disso aos 23 fiquei com outro rapaz, 1 dia apenas.

Tentei gostar de outros rapazes, conhecer, fazia amizade facilmente, mas ninguém gostava de mim, ninguém queria namorar comigo, achava que era por conta da aparência não ser muito atraente, mas na verdade acho que era porque nem sempre sabiam conversar comigo e assim fui ficando só, minha sobrinha que era minha amiga queria concorrer comigo, tanto na parte de namorados como na parte acadêmica e aí fui percebendo que amizade era algo que nem sempre existiu na minha vida, mas que era permeada por interesses e pessoas oportunistas.

Até que em 23 de dezembro de 2006, recebi uma mensagem enganada de uma pessoa (meu esposo), onde fiquei muito curiosa e fui conversando até descobrir, pois me encantou com as palavras e com a escrita e esta pessoa passou a ser meu amigo, sabia conversar comigo, gostava de mim como eu era, começou a frequentar a minha casa, conversamos por 2 anos até que em dezembro de 2008 começamos a namorar. Em 2011 noivamos e em 2014 casamos. Agradeço imensamente a Deus por ele ter aparecido na minha vida, onde foi a 1ª vez que tive alguém que pudesse confiar, onde podia ser ouvida e que acreditava em mim.

A primeira pessoa que soube da superdotação foi meu esposo quando casei aos 29 anos, mas muitos me falavam que não sou normal e eu acabava me sentindo um E.T. por onde eu ia. Depois me revelei para algumas pessoas, que não me entenderam muito bem, outras ignoraram, outros passaram a querer concorrer comigo, outras começaram a querer me usar, é… não é fácil ser diferente nesse mundo.

Tenho algumas dificuldades em relação com familiares, não me encaixo em almoços de famílias, festas de aniversário, casamentos, onde fofocas surgem da vida de todos e as pessoas reparam e fazem perguntam indelicadas. Eu tentei por anos me encaixar, hoje prefiro afastar, pois nada me acrescenta. Só me traz prejuízos. Depois que meus pais faleceram meus irmãos se revoltaram contra mim, me falaram coisas que doeram no fundo do meu ser e desde então cortei relacionamentos, conversas e tal, infelizmente e felizmente, foi o melhor para mim. Eu adoro conversar, casa cheia, mas gosto de conversas boas, pessoas boas, não gosto de conversas de bens materiais, pessoas que me usam ou de coisas toscas, gosto de assuntos interessantes, mas nem sempre é o que tem junto com a família.

E quero aproveitar e agradecer aos meus pais que mesmo sem saberem me estimularam e me ensinaram muitas coisas, aos meus irmãos pelos livros e materiais que eu pude ter acesso. Pela família que mesmo não sendo a perfeita é a que eu pude ter e mesmo com as adversidades tudo isso me fez tornar a pessoa que sou hoje e também sou grata a todas as pessoas que passaram por mim fazendo coisas boas ou não, direta ou indiretamente, todas foram importantes para minhas quedas e as minhas escaladas, porque quando eu caí eu me levantei mais forte do que nunca, porque tudo que eu quero, eu posso eu faço eu consigo, não fico parada esperando as coisas caírem do céu. Agradeço também às várias que torceram para meu sucesso e pasmem, a maioria não era parente e muitas nem conheço pessoalmente. Resiliência é meu sobrenome.

Então pessoal finalizo aqui meu imenso relato, porque a pessoa aqui não sabe resumir (sobre-excitabilidade também), tudo é intenso: 8 ou 80, rsrsrs mas muitos de vocês devem sentir isso na pele. Espero que este texto possa lhes ajudar a se reencontrar em algumas das minhas palavras.

PS. Caso precisem me contatar eu venho desenvolvendo um trabalho bem legal com crianças, adolescentes e adultos superdotados, pessoas com ou sem deficiência no desenvolvimento de potenciais e talentos. Vou deixar meu e-mail e os links das minhas redes sociais.

Tatiane Oliveira – Superdotada Acadêmico-intelectual em linguística e lógico-matemática, artes, esportes e em liderança (multipotencial). Agora entenderam porque sou que nem “bombril”? Kkkkkkk

Foi um prazer escrever para vocês, grande abraço!

Beijos e abraços

multitelie@gmail.com

Instagram:

@multitelie

@tatioliveirapsicop

@diariodeumasuperdotada

Youtube: Tatiane Oliveira

Multiteliê

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Sobre Filipe Russo

Filipe Russo é indígena agênere da Associação Multiétnica Wyka Kwara, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012; 2022) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Especialista em computação aplicada à educação pelo ICMC-USP (2022), licenciade em matemática pelo IME-USP (2020). Fundadore e editore do website SupereficienteMental.com (2013-), blog com mais de 180 publicações, dentre relatos pessoais, ensaios e entrevistas, sobre neurodiversidade e superdotação ou altas habilidades. Pesquisadore no grupo de estudos TransObjeto associado à PUC-SP e no grupo de pesquisa MatematiQueer associada à UFRJ. Coautore nas antologias poéticas Poesia Política: vote, Outros 500: Não queremos mais o quinhentismo, poETes: altas habilidades com poesia, Fotoescritos do Confinamento e recebeu menção honrosa pelo ensaio Desígnio de um corpo, na 4º edição do projeto Tem Livro Bolando na Mesa. Filipe possui aperfeiçoamento em Altas Habilidades ou Superdotação: Identificação e Atendimento Educacional Especializado pela UFPel e em Serviço de Atendimento Educacional Especializado pela UFSM (2022).
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