Entrevista: Cícero Moraes

Cícero Moraes

Cícero Moraes

Supereficiente Mental: Ninguém nasce com consciência de sua própria superdotação, contextualize para nós a descoberta da sua.

Cícero Moraes: Sempre achei que para alguém ser superdotado deveria necessariamente fazer contas super complexas de cabeça, bem como ser portador de uma memória excepcional, mas não é bem assim. No meu caso eu descobri que é muito mais sobre como sentimos e lidamos com o mundo do que prega a nossa atividade acadêmica.

SM: Quais são suas áreas de alta habilidade?

Cícero: Profissionalmente no campo da computação gráfica 3D, envolvendo a modelagem, desenvolvimento de software e tecnologias de planejamento cirúrgico para humanos e outros animais.

SM: Como foi a sua avaliação formal de superdotação ou altas habilidades? Você considera que esse serviço profissional ainda é pouco acessível a boa parte da população brasileira?

Cícero: No meu caso correu tudo bem, pois a Dra. Daiane Azevedo conduziu os testes com grande maestria, respeitando a minha sobre-excitabilidade. É um fato que, além de termos poucos profissionais atuando no campo das AH/SD, os valores são proibitivos para parte significativa da população.

SM: O que é ser um esposo superdotado?

Cícero: É ser alguém que respeita a parceira em todos os sentidos, que a incentiva a ser ela mesma, que fomenta o seu desenvolvimento profissional, que é extremamente empático e entregue a uma vida a dois, regada por cuidado, respeito e amor.

SM: Qual o significado que você dá para o suicídio? E de que formas podemos enfrentar essa questão numa dimensão política e social?

Cícero: É uma ação que traz muito sofrimento para quem fica, no meu caso eu era muito novo quando meu pai faleceu, não tinha maturidade para entender, mas ao longo da vida percebi a tristeza que o ocorrido causou aos parentes e amigos. Sempre é importante buscar ajuda, principalmente de um profissional de saúde mental, para evitar tamanho sofrimento.

SM: Qual o seu nível de instrução formal? Você pretende continuar investimento no tripé ensino, pesquisa e extensão?

Cícero: Sou formado em Marketing por uma universidade EaD (Uninter). Sim, essa realidade é algo bem presente na vida daqueles que se dedicam à saúde humana e veterinária.

SM: O autodidatismo exerce um impacto e uma importância na sua vida. De quais formas a educação e a ciência poderiam celebrar os talentos autodidatas ao invés de embotá-los?

Cícero: De uma forma bem objetiva, tornando o processo de publicação menos burocrático e focando no assunto e sua importância, não nas instituições as quais os indivíduos pertencem.

SM: Você edita a sua própria revista científica, a OrtogOnLineMag. Elabore sobre as demandas de inovação em termos de política e metodologia que lhe levou ao desenvolvimento desta revista.

Cícero: Justamente a burocracia geral das publicações científicas. Foi uma forma que encontrei de permitir aos meus alunos e demais interessados, publicarem artigos sobre os seus trabalhos/linha de pesquisa, de uma forma mais prática, sem descuidar, evidentemente, dos aspectos éticos.

SM: Você ou algum membro de sua família faz uso de algum acompanhamento psicológico? Em caso positivo fale como isso funciona para vocês.

Cícero: Sim, tecnicamente todas as pessoas tem uma ou outra questão para cuidar. Ao se buscar um profissional da saúde mental, encontramos uma forma de falarmos dos nossos problemas e assim, curiosamente, ter um diálogo pessoal e produtivo, para, se não resolver, ao menos saber conviver com as nossas peculiaridades.

SM: Algum lema motivacional?

Cícero: Descanse, descansar é parte importante do trabalho.

SM: Você ou algum membro da sua família faz uso de algum acompanhamento psicopedagógico? Em caso positivo, fale como isso funciona para vocês.

Cícero: Não.

SM: Algum recado pra galera?

Cícero: Para aqueles que, como eu, vivem sob o signo da sobre-excitabilidade, sigam o meu lema motivacional supracitado, parece incoerente para aqueles que gostam de produzir, mas até um carro de Fórmula 1 precisa parar na corrida, para recarregar o combustível e recuperar a sua potência total.

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Sobre Filipe Russo

Filipe Russo é indígena agênere da Associação Multiétnica Wyka Kwara, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012; 2022) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Especialista em computação aplicada à educação pelo ICMC-USP (2022), licenciade em matemática pelo IME-USP (2020). Fundadore e editore do website SupereficienteMental.com (2013-), blog com mais de 180 publicações, dentre relatos pessoais, ensaios e entrevistas, sobre neurodiversidade e superdotação ou altas habilidades. Pesquisadore no grupo de estudos TransObjeto associado à PUC-SP e no grupo de pesquisa MatematiQueer associada à UFRJ. Coautore nas antologias poéticas Poesia Política: vote, Outros 500: Não queremos mais o quinhentismo, poETes: altas habilidades com poesia, Fotoescritos do Confinamento e recebeu menção honrosa pelo ensaio Desígnio de um corpo, na 4º edição do projeto Tem Livro Bolando na Mesa. Filipe possui aperfeiçoamento em Altas Habilidades ou Superdotação: Identificação e Atendimento Educacional Especializado pela UFPel e em Serviço de Atendimento Educacional Especializado pela UFSM (2022).
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