Supereficiente Mental: Ninguém nasce com consciência de sua própria superdotação, contextualize para nós a descoberta da sua.
Tatiana Saturno: A minha descoberta foi através de uma psicóloga do IF onde estudava. Eu a conheci a partir de um invento que fiz para um colega cego da minha sala. Ela logo percebeu que eu tinha características acima da média, sempre me dizia que eu parecia com uma velha de 80 anos (madura).
SM: Quais são suas áreas de alta habilidade?
Tati: Eu não sou diagnosticada, então, tecnicamente, eu não sei.
SM: Participaste de alguma iniciativa de apoio aos alto habilidosos? Em caso positivo fale um pouco mais sobre essa experiência, em caso negativo por que não?!
Tati: Não. Primeiro: meu contexto socioeconômico era de pobreza e ignorância, então ninguém sabia o que era um sd. Segundo: a ignorância dos profissionais da educação, embora os professores percebessem minha habilidade acima da média, por ignorância, não faziam nada ou não sabiam como agir. Terceiro: eu não tive estímulos e não tinha muitas condições financeiras, então, não tinha acesso a informações, logo não sabia que era sd.
SM: Fazes uso de algum aconselhamento psicopedagógico? Em caso positivo fale como isso funciona para você.
Tati: Não, mas recentemente procurei uma psicóloga, por motivos de necessidade emocional, não diretamente ligado a ser sd.
SM: De que forma você considera que o seu contexto socio-cultural afetou seu desenvolvimento? Houve algo em troca? Humildade para a mistificada arrogância sd, quem sabe?
Tati: Do ponto de vista positivo: por ser muito pobre e as pessoas ao meu redor serem simples eu pude ter uma ótima infância (excerto um caso de abuso que sofri), brincadeiras, aprender a compartilhar, que ninguém é melhor que ninguém, a ser humilde e o acolhimento afetuoso as pessoas, sem se preocupar de onde vieram. Do ponto de vista negativo: estava em um meio sem estímulos, eu que tinha que ser a minha motivadora, comecei a ler cedo, mas sem poder comprar livro, passei muitos anos longe da leitura, fui desnutrida, o que pode ter afetado minha cognição e emocional.
SM: Estudando nas melhores instituições da região (Instituto Federal no ensino médio e Universidade Federal agora no superior), o que você tem a dizer sobre o sistema de ensino público brasileiro? Pros, contras e sugestões.
Tati: Pros: sinceramente o ensino é precário, passei por greves e ainda estou sofrendo consequências disto (um semestre em quatro meses, exemplifica bem), agora, sempre gostei dos professores, a dificuldade de ser um, muitas vezes, faz com que estes que tem a coragem de adentrar a este meio, sejam pessoas que realmente querem fazer isto, o que me deixava feliz pelo empenho deles e sempre gostava de conversar com os mesmo, fui o tipo de estudante que incentivava o professor a continuar naquela vida, em meio as dificuldades. Contras: esse tem vários, como, o que pensei hoje na aula de Introdução a Computação, educação síncrona – seria uma educação que quer passar os alunos a uma mesma taxa de velocidade, sem considerar se é mais lento ou mais rápido -, condições precárias de infraestrutura dos colégios (estudei em colégio estadual público e era triste a estrutura das salas, ventilação, etc), mesmo estando em boas instalações no IF, eu sabia que ex-colegas de sala estudavam em turmas com mais de 60 alunos por sala, desvalorização dos professores, tanto por parte dos alunos, como pelo Brasil em si, muito entristecedor.
Sugestões: primeiramente um governo que queria educar os cidadãos e não mantê-los na ignorância; uma conscientização da população sobre a importância da educação na vida das pessoas, não do tipo, estude ou não vai conseguir emprego, mas como algo prazeroso; uma mudança na forma de se ver a educação, para que deixe de ser síncrona e para assíncrona (cada um à sua velocidade), ou seja, educar respeitando as diferenças de cada um.
SM: Quais são suas perspectivas acadêmicas e profissionais de agora em diante?
Tati: Neste momento, estou buscando uma estruturação saudável do meu emocional, o qual não anda tão bem. Tenho problemas para conseguir um objetivo, aquilo de se ter potencial e não ter algo que seja suficientemente bom para lhe tirar da inercia. Mas, se houvesse, queria que fosse algo como pesquisas em áreas que me despertam interesse e um trabalho em tais áreas, principalmente alguma que valorize meu ponto forte, o qual seria ter um conhecimento em diversas áreas, e o fraco que seria não ter muita especialidade.
SM: Algum lema motivacional?
Tati: Aquele momento que você percebe que está tão mal que não consegue encontrar um lema motivacional…
Mas vamos lá: Continue vivendo, pois o amanhã pode sempre ser melhor que o hoje.
SM: Algum recado pra galera?
Tati: Não nos julgue, nós sds, como seres perfeitos, lembrem-se que somos um dos mais fracos.
Para os sds: mesmo estando em uma ilha, lembrem-se que há pessoas que querem construir uma ponte até você.