A mesma sociedade que se emociona com filmes e documentários sobre John Nash, Albert Einstein, Frida Kahlo e Marie Curie fecha a cara e as portas quando alguém se intitula ou é intitulado prodígio, superdotado, sobredotado, portador de altas habilidades, alto habilidoso, talentoso, gênio ou autodidata. As expectativas neurotípicas quanto ao histórico de qualquer um se resume a apenas uma especialidade em alguma área do conhecimento adquirida via ensino superior e quando apresentados alguém que deduziu seus próprios métodos, desenvolveu suas próprias estruturas de aprendizado e apreensão do real tais neurotípicos, a maioria aliás, ficam ultrajados e logo operam uma performance digna dos filmes B hollywoodianos: negam até o infinito nossa existência com medo de comprometeram a própria, negam nossa natureza para protegerem o próprio ego tão ameaçado pela própria pequenez em se aceitar alguém tão humano quanto si mesmo e ao mesmo tempo tão alienígena e intangível.
Orgulho e vaidade se combinam perversamente numa tentativa de preservar a própria autoestima e seu conceito de mundo a ponto de menosprezar, perseguir, ignorar, negligenciar e dificultar o desabrochar do dom alheio, muitas vezes na própria família em relações paternas, maternas e fraternas. Menos prepotência, por favor; menos ignorância, por favor. Não, não estamos mentindo para nos vangloriar de falsos grandes feitos, não queremos reconhecimento por méritos que não merecemos, mas exigimos respeito e representatividade a muito barrigados para um amanhã que nunca chega. Nós existimos numa neurodivergência que sua mente nunca será capaz de simular e não, nossa vida não é um mar de rosas graças ao nosso DNA diferenciado; há comorbidades específicas da classe e de cada um, literalmente uma espada de dois gumes, os outros pouco a nada sabem de ambos os lados da moeda.
Há uma tremenda resistência social em todas as instituições em se aceitar o multitalento, aqui inclui-se mas não se resume à família, os amigos, os colegas de clube, os professores escolares e universitários, os superiores no trabalho, entre outros. Quando conseguimos alguma visibilidade logo nos macaqueiam em atrações televisivas; um circo de valores, uma bolsa de horrores; nos convidam para algum reality show debochado para fazermos demonstrações vulgares e humilhantes de nossas capacidades, nos reduzem a calculadoras humanas, a máquinas de entretenimento, algo bem show do Hulk: se você conseguir ir e vir 10 vezes carregando ovos sem derrubar nenhum você ganha a casa própria, se você não conseguir todos nós vestimos nossa máscara de dó enquanto você volta de mãos vazias para casa. Já nos shows de talento ou você paga apenas um mico e ganha nada, ou você paga um mico e ganha uma bolsa de estudos, uma geladeira ou um computador.
Aplausos, sociedade, você está de parabéns! Agora queira fazer o favor de me devolver meu queixo caído ao chão junto da dignidade e humildade também minhas.
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Nossa, esse texto representa muita gente. é complicado como você disse, uma faca de dois gumes. E temos que aguentar as pessoas pedindo demonstrações já com o intuito de humilhar e ver o fracasso. O pior é inveja sem sentido nenhum, eu acredito que sentir inveja por alguém que tem habilidades na “sua área” é até aceitável, mas sentir inveja de uma pessoa que faz algo que você não quer, como alguém que ganha muito dinheiro trabalhando com contabilidade ou que trabalha com música… já é algo que me faz sentir raiva, a pessoa não quer ser boa, só quer que a outra seja pior
É realmente muito, muito frustrante! Isso só faz esticar o horizonte visto da ilha de solidão a que muitos de nós são confinados involuntariamente…
E foi muito bem colocado o ponto do espalhafato feito com superdotados…
Como se já não bastasse o quase boicote de nossa capacidade produtiva à sociedade, quando ela é ocasional e finalmente descoberta é posta sob luzes de holofote e vítima de um verdadeiro espetáculo circense… desperdício descomunal, ato infeliz, frustração absoluta!…
Seus textos são legitimamente superdotados, Filipe!
Sinceramente, este é o único lugar onde encontrei textos como esse que realmente fazem o superdotado se sentir compreendido.
Continue escrevendo!