“Assim como cada criança é única, não há duas crianças dotadas exatamente iguais!” – Hélio Caloi Cruz Leão
O mesmo pode ser extrapolado para adultos ou seres humanos com qualquer idade, aliás o quanto mais velho um indivíduo se torna mais ele se distancia daquela origem supostamente universal e mais se aproxima de sua identidade singular, alguns poucos se atrevem a se adensar nessa matéria pegajosa e sombria onde reside o mistério de ser a si mesmo, de conhecer esse outro lado colado ao nosso avesso, um verso inerente que emerge à flor da pele a expressar-se explicitamente no que se convencionou a chamar de personalidade.
Na Era dos Testes Padronizados sejam de QI, sejam da Fuvest o que estamos medindo? O que estamos procurando? O quanto escamoteamos a individualidade e truncamos o passado e as vivências de nossos alunos e funcionários com porcentagens, notas e avaliações de uma futilidade narcisística, quando não abertamente ineficaz e mórbida? Qual a grande dificuldade em se criticar e problematizar os pontos fraquíssimos de seja qual sistema for? Talvez porque a própria estima de si e de seus colegas dependem dos sistemas de validação e recompensa que lhes levou de subalterno à chefia? Me poupe dessas hierarquizações vãs e recursivamente viciosas.
Quem tem propósito próprio não se desvia de seu destino por conta de obstáculos de uma dificuldade artificial, projetada conceitualmente para se autojustificar. Quando enxergamos o indivíduo quanto uma entidade singular vemos que essa singularidade transborda para suas demais características. Do modo de pensar, sentir e ver o mundo até ao seu tom de voz, ao seu cheiro e a sua caligrafia quando rabisca uma anotação qualquer no caderno, é tão único quanto um número na reta real. Diferentemente de números somos dotados de identidade, pensamentos, sentimentos, propósitos e personalidade tão únicos quanto incopiáveis, incompatíveis com uma sociedade que não enxerga isso. Uma sociedade que só enxerga o que sua programação permite está fadada a reproduzir um sistema repressor de autoflagelação, a produzir uma xenofobia contra tudo que não pertence ao modelo vigente, ao ideal do momento, ao sonho americano ou brasileiro de uma vida dita de sucesso social. Mas há quem escolha algo diverso, tão neurodiverso quanto eu e você, uma felicidade outra e não algo empacotado, sugestionado e embalado com incontáveis películas de viés.