Relato Pessoal: Fernanda Iris

Fernanda Iris

Fernanda Iris

Desejado pelos que não possuem, negligenciado pela sociedade e omitido
pelos que detêm.

Bem-vindo ao mundo dos invisíveis, sim muitos nem sabem da nossa
existência. Ou nutrem uma ideia utópica da superdotação.

Prazer, possuo SD/AH, me chamo Fernanda Iris, tenho 28 anos e venho
contar desde minha gênese até a fase hodierna.

A princípio, cabe evidenciar que eu sempre fui uma criança divergente
das demais. Com todos indicativos de indivíduos com superdotação/
altas habilidades.

Uns dos meus indicativos que sempre foram bem evidentes são:
Vocabulário avançado; perfeccionista; crítica; contestadora; grande
interesse por temas abordados por adultos; facilidade de expressão;
gosto de trabalhar de forma individual dentre outros. Além disso, Q.I
superior.

Aprendi a ler muito cedo com quatro anos e chamada para ler nos
lugares devido a deter de uma ótima leitura.

Interesse pela etimologia das palavras. Sempre muito curiosa não tive
uma fase do porquê, vivo nesta fase que a cada momento fica mais
intensa. Curiosidade demasiada que chegava a desmontar brinquedos para
saber como eram feitos. Com uma comunicação além para minha faixa
etária e convívio social. Capacidade de liderança. Gostava de dialogar
com os adultos e os menores eu liderava, considerada mandona por
alguns colegas.

Na escola nunca tive dificuldades, contestava os professores. E muitos
não gostavam, outros até ouviam e concordavam com meus argumentos sobre
determinada questão.

Sempre gostei do ambiente escolar até começar a precisar ter que
sempre esperar os demais aprenderem, devido a minha facilidade de
assimilar o conteúdo. Isso até então eu entendia e respeitava, porém
ser parado pelos professores você sabendo seu potencial, é ruim.

Ser barrada quando você possui uma necessidade de avançar. Necessidade
de saber mais. Querer adquirir conhecimento, prazer em aprender.
Gostar e admirar assuntos mais complexos. Chegou um certo instante que
pra mim a escola não era mais um lugar de obter conhecimento e sim de
repetir ideias, e até hoje possuo esta concepção. Para quem possui uma
idiossincrasia de originalidade, imaginativa, criativa, não
convencional é ruim viver em um sistema educacional deste.  E então,
eu refletia do que adianta ter uma inteligência superior e não poder
fazer uso dela, se torna algo inútil. Dependendo do docente, eu
ajudava até os demais colegas a compreender o assunto.

Com interesses diversificados. Uma criança que não é neurodivergente,
falando especificamente da superdotação/ altas habilidades, e com base
na minha experiência, os meus colegas  costumavam falar que queriam
fazer esporte ou só dança ou até em alguns casos os dois. Enquanto eu
queria fazer: dança, música, esporte, artes e moda.

Ainda na infância fui líder de um grupo de dança. Organizava, ensaiava,
criava as danças e sempre com muita facilidade para a área artística. Eu
criava brinquedos, histórias, roupas, etc. Preferência por brinquedos
que exercitassem a mente. Como também ficava pensando em criações para
melhoria da humanidade uma delas logo depois foi criada, é uma
tecnologia que contribui para os deficientes visais. Como também,
pensei e penso em várias outras.

Fui dançarina, modelo, estudante de biomedicina.

Atualmente sou musa, escrevo, estudante de direito, pretendo cursar
filosofia, pois em muitos dos meus instantes pensantes falam que fico
filosofando (risos), medicina, letras, psicologia. Design de ambiente
internos etc….

Vejo isso como normal, tenho prazer e gosto de ler, saber e estudar
áreas diversificadas, alguns temas possuo mais interesses. Contudo,
para grande parte da Sociedade não é normal e gera o incômodo esta
minha gama de interesse. As pessoas perguntam você deseja fazer tudo
isto? E ficam impressionados com a minha confirmação.

No momento que eu respondo automaticamente vem na minha mente: Isaac
Newton foi um astrônomo, alquimista, filósofo natural, teólogo e
cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático. E eu não
vejo problemas em fazer isso tudo.

Enquanto as pessoas analisam de forma superficial eu faço uma análise
minuciosa. Sempre autodidata e pesquisadora nata.

Após ter inúmeros rótulos e realizar uma reflexão cheguei a conclusão
do propósito que eu sou tão intensa, pois sou ou 0,8 ou 8.000, e após
conversas com outros sds percebi que eles também possuem essa mesma
peculiaridade e que conforme algumas pesquisas a superdotação e
intensidade andam lado a lado. Desta maneira, comecei a procurar
entender mais como meu cérebro e minha emoção funcionavam. A única
parte negativa é minha intensidade emocional em razão que, eu sinto
minhas emoções muito fortes tanto as boas como as ruins.

Diante de tudo que foi evidenciado, admito que sou feliz mesmo que a todo
momento esteja me sentindo diferente. Eu no pretérito dizia que me sentia
uma E. T. (risos).

Passei por um momento difícil como qualquer outro ser humano,
todavia, foi bom para eu procurar e encontrar indivíduos
neurodivergentes, busquei uma profissional para reabilitação
neuropscológica que irá contribuir para amadurecimento das funções
executivas. E fazer um equilíbrio entre o Q.I. verbal que foi o que
deu mais elevado e o executivo.

Percebi que tentar ser igual aos demais só me trouxe infelicidade,
frustração, ansiedade e angustia. Presentemente eu aceito minha
superdotação visto que, não é algo que eu escolhi é como eu sou. Para
exemplificar, a superdotação, assim como a cor dos olhos ou a sua
altura não é algo que você pode escolher. É como eu fui projetada. Eu
sou biologicamente projetada para ver o mundo de determinado modo. E é
algo que eu não posso mudar. Já até tentei e a consequência foi
sofrimento psíquico.

Hoje procuro aprender o máximo possível sobre a superdotação para o
meu bem-estar.

E vale deixar nítido que eu sou superdotada e não perfeita.

Que eu não sei tudo e a superdotação tem relação maior com o meu potencial
para aprender. Coisa que também muitas pessoas não vão entender.

Destarte, possuo uma vontade extensa em tornar a Sociedade melhor.

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Sobre Filipe Russo

Filipe Russo é indígena agênere da Associação Multiétnica Wyka Kwara, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012; 2022) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Especialista em computação aplicada à educação pelo ICMC-USP (2022), licenciade em matemática pelo IME-USP (2020). Fundadore e editore do website SupereficienteMental.com (2013-), blog com mais de 180 publicações, dentre relatos pessoais, ensaios e entrevistas, sobre neurodiversidade e superdotação ou altas habilidades. Pesquisadore no grupo de estudos TransObjeto associado à PUC-SP e no grupo de pesquisa MatematiQueer associada à UFRJ. Coautore nas antologias poéticas Poesia Política: vote, Outros 500: Não queremos mais o quinhentismo, poETes: altas habilidades com poesia, Fotoescritos do Confinamento e recebeu menção honrosa pelo ensaio Desígnio de um corpo, na 4º edição do projeto Tem Livro Bolando na Mesa. Filipe possui aperfeiçoamento em Altas Habilidades ou Superdotação: Identificação e Atendimento Educacional Especializado pela UFPel e em Serviço de Atendimento Educacional Especializado pela UFSM (2022).
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