O meu nome é Patrícia e eu tenho 36 anos na data deste relato que é o ano de 2020. Eu soube das minhas altas habilidades/superdotação aos 28 anos e a primeira sensação que tive foi de alívio. Isto porque eu sempre soube que eu era diferente, mas eu não sabia o porquê. Essa ausência de resposta sobre minha singularidade me incomodou por muitos anos. Eu vejo a minha história como pessoa superdotada composta por coisas boas e também coisas que foram difíceis de lidar. E essas coisas que foram difíceis, hoje eu lido muito melhor.
Eu sou superdotada predominantemente na área acadêmica/intelectual, mas tenho boas habilidades em liderança e artes. Eu sou filha única de pais que também têm muitos indicadores de altas habilidades/superdotação, embora eles não tenham passado por uma avaliação formal. Digo isso porque influenciou totalmente na minha educação e na minha relação com eles. Meus pais nunca tiveram nenhum problema comigo, pois o meu jeito diferente de ser das outras crianças combinava com o jeito diferente de eles serem. Várias características que eu tinha como criança, eles também tinham. Por exemplo, a necessidade constante de sempre saber das coisas, como elas são e como funcionam. Meus pais nunca se cansavam com minhas perguntas nem tinham dificuldade em acompanhar meu raciocínio. O fato dos meus pais ser cada um o diferente em suas respectivas famílias fez com que eu me sentisse à vontade para também ser diferente em nossa casa. Eles sempre disseram por muitas maneiras que eu era capaz de conseguir qualquer coisa que eu quisesse devido às minhas capacidades. Outra coisa que julgo muito importante foi que eu nunca ouvi de meus pais que eu não podia fazer algo porque eu era menina. A questão de gênero nunca afetou minha autoestima graças a meu pai e minha mãe não terem uma visão retrógrada e limitadora sobre o papel das mulheres na sociedade.
Eu sempre fui extremamente inteligente desde bebê e isso sempre chamou a atenção das pessoas. Felizmente, nunca sofri bullying por causa disso na escola. Eu sempre amei a escola, embora eu não aprendesse muita coisa lá, uma vez que já sabia o que era ensinado ou aprendia tão rápido que precisava esperar os demais. Eu fui aquele tipo de estudante que tirava 10 em todas as matérias e em todas as provas e, além disso, eu me dava bem com todos os colegas, tinha amizade com todo mundo. Hoje, uma coisa importante que as pessoas precisam saber a nosso respeito é que o perfil de estudante que eu fui é uma exceção, não é a regra. Jamais se pode esperar que toda pessoa com AH/SD seja nota 10 em tudo.
Eu aprendi a ler e escrever com 2 anos e aos 5 anos já fazia operações matemáticas complexas como multiplicação e divisão por 5 ou 6 números. Nunca era preciso que alguém me dissesse duas vezes a mesma coisa porque eu sempre aprendia na primeira vez ou aprendia sozinha apenas observando. Sou autodidata por natureza. Aprendo qualquer coisa que eu queira. Não há limites para mim. O meu desempenho intelectual sempre foi muito avançado graças a minha singularidade e ao incentivo dos meus pais. A escola não me ajudou a desenvolver meus talentos intelectuais nem de liderança e menos ainda os artísticos porque, naquela época, ninguém sabia o que eram altas habilidades e superdotação. Mas a escola foi importante para minha socialização. Eu amava ir à escola para brincar e passar algum tempo com outras crianças. Eu sempre fui muito sozinha em casa. Não tinha outras crianças para brincar e eu imaginava muito por conta disso.
Problemas eu comecei a ter no ensino médio e na faculdade. Diferente da escola, desta vez houve pessoas que não gostavam de mim porque eu era a melhor estudante da sala. Eu já não tinha mais quase nenhum amigo e principalmente na primeira graduação, que foi de psicologia, tive muitas dificuldades nos primeiros anos até começar a fazer terapia. Felizmente, durante o mestrado e a minha segunda graduação, que foi de filosofia, a situação foi bastante diferente e melhor, pois eu já tinha mais maturidade e mais condições de lidar com pessoas. Eu precisei aprender a me relacionar com a diversidade de pessoas que estavam ao meu redor e principalmente com aquelas que não compreendiam o meu modo de ser. O que me ajudou muito a desenvolver minha inteligência emocional foram os anos que passei com bons terapeutas (foram 8 anos de psicanálise).
Com o tempo e muito esforço da minha parte em aprender a amadurecer, conquistei muitas coisas como novas habilidades e o desenvolvimento de novos talentos. Por exemplo, passei de uma pessoa fechada e arrogante (isto porquê eu era arrogante quando mais jovem para me proteger das ofensas das outras pessoas) para uma pessoa profundamente diplomática. Desenvolvi outras inteligências que estavam “guardadas” como as inteligências intrapessoal e interpessoal. Essas inteligências associadas com minha inteligência intelectual fazem da minha vida um mar de possibilidades em aberto que eu posso escolher. Uma coisa que aprendi é que quanto mais a gente se desenvolve, mais liberdade temos de escolha. Podemos ir muito além daquilo que dizem que devemos.
Algo muito marcante que aprendi pela experiência é que ser uma pessoa altamente inteligente na área intelectual pouco adianta se não houver o desenvolvimento de outras áreas da vida. Eu tenho QI 130 (desde a última vez que foi medido), mas eu não sabia como lidar com pessoas e isso me prejudicava. A minha vida melhorou muito quando eu decidi investir no desenvolvimento de outras inteligências e, consequentemente, nos meus muitos outros talentos, alguns dos quais estavam ocultos para mim mesma.
Eu gosto muito de ser uma pessoa superdotada, apesar das dificuldades porque nem tudo são flores. Aprendi também que todas as pessoas têm dificuldades a superar e que não sou diferente nisso. Pode ser que as minhas dificuldades sejam diferentes das de outras pessoas, mas no final estamos todas e todos no mesmo barco. É difícil quando estou em um ambiente no qual não tenho liberdade para criar ou para expressar minhas ideias, isso é torturante. Mas tenho buscado estar com pessoas que estão abertas para aquilo que é novo e tenho tido a felicidade de encontrar muitas delas dispostas a mudar alguma coisa no mundo.
Eu tenho uma constante necessidade de fazer com que minha existência não seja em vão, que ela tenha um sentido não só para mim mas para a humanidade. Eu sinto, desde criança, que tenho uma missão e só recentemente eu consegui compreender qual é. A minha missão é trabalhar em prol do conhecimento e para que ele chegue a todas as pessoas e, com isso, elas tenham a oportunidade de mudar alguma coisa em sua vida. Minha missão é construir oportunidades para que as pessoas tenham uma vida melhor. E quando falo de conhecimento, eu me refiro tanto ao conhecimento científico quanto ao conhecimento de si mesmo. Eu percebi que sou muito boa em fazer com que as pessoas se encontrem e que se conheçam, ou seja, que elas possam ter a experiência de, através do encontro com o outro, transformar a si mesmas e o mundo.
Para mim, a superdotação é algo que não serve apenas para o meu bem-estar, mas está a serviço do bem-estar da humanidade e de todas as formas de vida do planeta. Sou uma pessoa profundamente preocupada com a natureza, com os animais e as plantas e não me canso de me maravilhar quando olho para o planeta ou para o universo. Eu aprendi que nenhuma vida existe em vão, mas que fazer com que cada vida tenha um propósito maior é de responsabilidade de cada um. Cada atitude que temos todos os dias faz toda a diferença para as outras formas de vida.
Tudo o que faço está vinculado a minha missão como ouvir pessoas, fazer minhas pesquisas, ser vegetariana, fazer caminhadas, ler livros, escrever, cozinhar para mim e para quem vem me visitar, cuidar das plantas que moram comigo, enfim… estar em constante transformação rumo a níveis cada vez mais altos de desenvolvimento. E é isto, desenvolver-me! Por isso me tornei cientista e filósofa… e ainda me tornarei muitas outras coisas!
Me identifiquei com esse depoimento. Ser diferente, se destacar, pensar nas outras pessoas mais do que o normal, ser mais introspectiva e ter a curiosidade aguçada ao mesmo tempo que não ser bem compreendida pela sociedade e ter que se adaptar à diferentes formas de pensar e agir, as formas diferentes de pensar e agir das pessoas com um qi mais baixo…Essa foi minha vida.
Em sáb, 28 de mar de 2020 19:06, Supereficiente Mental escreveu:
> Filipe Russo posted: ” O meu nome é Patrícia e eu tenho 36 anos na data > deste relato que é o ano de 2020. Eu soube das minhas altas > habilidades/superdotação aos 28 anos e a primeira sensação que tive foi de > alívio. Isto porque eu sempre soube que eu era diferente, mas eu nã” >
Patricia, sua LInda!
Vanessa Oliveira