
Amanda de Oliveira
Supereficiente Mental: Ninguém nasce com consciência de sua própria superdotação, contextualize para nós a descoberta da sua.
Amanda de Oliveira: Quando meu filho entrou no ensino fundamental comecei a suspeitar que ele tinha tdah e comecei a estudar sobre neurodiversidade. Estava certa que todos em casa tínhamos TDAH e/ou TEA. Brincava com uma amiga que estávamos fazendo tese de pós doc em neurodivergencia visto que estávamos super comprometidas a entender o neurodesenvolvimento humano e como era difícil encontrar profissionais que nos guiassem a gente ia estudando por conta e trocando informação uma com a outra. Ela com a mesma motivação que a minha: diagnosticar/identificar os filhos. Descobriu que sua filha era AHSD e estava certa que eu também era, me convenceu a buscar minha avaliação com especialista nessa área. Aos 35 recebi a confirmação bem como a resposta pra muita coisa na minha vida.
SM: Quais são suas áreas de alta habilidade?
Amanda: Do tipo acadêmico/intelectual, nas área intrapessoal, naturalista e linguística principalmente.
SM: Como foi a sua avaliação formal de superdotação ou altas habilidades? Você considera que esse serviço profissional ainda é pouco acessível a boa parte da população brasileira?
Amanda: Por 2 meses tive encontros semanais com psicóloga especialista em AHSD. Não me parece acessível este serviço para a grande maioria da população tanto pelo valor, como pela dificuldade de encontrar profissionais qualificados.
SM: Como o sistema escolar não lhe serviu e de quais formas ele poderia ter lhe servido?
Amanda: Me parece insana a maneira que somos agrupados dentro do sistema escolar. Eu nunca me identifiquei com os pares e a socialização sempre foi sofrida. Eu não sou uma pessoa muito melancólica, então ao invés de me deprimir eu sentia raiva da maioria das crianças a minha volta. Achava eles bobos e de péssimo senso de maneira geral. Mas mesmo assim, me sentia pressionada a me encaixar num papel que já estava bem definido. Sinto que não fui estimulada como deveria academica e criativamente de maneira que foi mais um empecilho do que uma ferramenta na minha aprendizagem. Aprendi a estudar quando sai da escola. Não saberia nem como sugerir como poderia ter sido diferente, pois para mim a escola que conhecemos hoje é só mais uma instituição falida dentro do sistema que vivemos.
SM: Sobre o que se tratava o seu trabalho de conclusão de curso na graduação? O que lhe atraiu nesse tema?
Amanda: Ocorrência de pinipedes no estado em que moro. Pinipedia é um grupo de mamiferos marinhos que sempre me intrigou pois aparecem na região de forma erratica atualmente devido a ação antrópica. Eu sabia que queria trabalhar com eles então fui fazendo tudo que estava ao meu alcance nessa época para ir me especializando.
SM: O que é ser uma mãe e uma esposa superdotada?
Amanda: Não sei como responder essa pergunta.
SM: De quais formas você sofre uma dupla opressão por ser mulher e por ser mãe?
Amanda: O patriarcado é estruturante na nossa sociedade e o papel da mulher por si só já te transforma num alvo, ao se tornar mãe as expectativas duplicam automaticamente.
SM: Como é a vida de uma família atípica num mundo feito para típicos?
Amanda: Toda fora do padrao. Notoriamente quanto mais saímos dos padrões, mais qualidade de vida temos. Hoje temos o privilégio de viver bem.
SM: Você ou algum membro de sua família faz uso de algum acompanhamento psicológico? Em caso positivo fale como isso funciona para vocês.
Amanda: Eu e meu companheiro fazemos psicoterapia cognitivo comportamental eternamente. Nosso filho fez por um breve período, mas não pareceu ser tão efetivo naquele momento, porém, assim que cresça um pouco certamente retornará. Para nós adultos é essencial para entender nossas condições, bem como melhorar nossa comunicação. Eu sou AHSD e minha psico é TDAH, ele é TDAH e o psico dele é AHSD e isso foi uma grata surpresa.
SM: Algum lema motivacional?
Amanda: Não acredito em lemas e a palavra motivacional muito me incomoda devido ao sentido que ela é usada atualmente. Mas gosto muito e me identifico com a seguinte frase: em um mundo de concreto e ruído, quero ser de barro e silêncio.
SM: Você ou algum membro da sua família faz uso de algum acompanhamento psicopedagógico? Em caso positivo, fale como isso funciona para vocês.
Amanda: Não. Meu filho já fez, mas não vimos efetividade visto a limitação dos profissionais.
SM: Algum recado pra galera?
Amanda: Questione tudo, dogmas não servem para absolutamente nada. O que nos diferencia dos demais primatas é a nossa habilidade de comunicação, então busque ferramentas para melhorar a sua constante e eternamente.