Comorbidades: Complexo de Superior & Inferior

Inferior? Ou superior? Ou...

Inferior? Ou superior? Ou…

Perceber-se diferente e não necessariamente saber o porquê ou como explicar a outrém, ou pior ainda: tentar convencê-los da verdade enquanto eles esnobam o que consideram ser apenas um desesperado e desprezível pedido de atenção. Pois bem, a superdotação é uma carência; não de holofotes, outdoors e/ou autógrafos, mas sim de estímulo, atividades acolhedoras e oportunidades inclusivas. A marginalização e a falta de compatibilidade com os demais muitas vezes coage o superdotado a se inferiozar por não se considerar um membro do grupo. Quando coroados com o título mitológico de sobredotado de repente se deparam com a pressão pessoal e social de fazerem jus ao cargo temendo serem destronados de volta ao ostracismo. Essa cobrança acentua o perfeccionismo muitas vezes inerente dos mesmos a níveis, por vezes até patológicos, levando-os a metas, prazos e intenções de conquista herculianos. O portador de altas habilidades não possui obrigação nehuma de produzir feitos geniais por mais que para tanto esteja naturalmente encaminhado.
Perceber-se diferente e enfim saber o porquê, entender a razão do tédio, da raiva e da tristeza; a impotência de agir no mundo tão adequadamente quanto se sente necessário. Tanto pode amargurar um alto habilidoso, principalmente em caso de diagnóstico tardio ou ausência do mesmo, preenchê-lo com um rancor tirânico e fazê-lo sentir-se melhor do que o outro e não apenas em referência a talentos, sensibilidades e inteligências, mas sim num espectro global e subjetivo e antissocial.
Ou seja, facilmente um superdotado cai para um desses lados do desfiladeiro psicológico e não raro rebate-se de um ao outro, oscilando comportamentos constantemente, perdendo coesão e dificultando explicar sua situação para quem quer que seja.
Mostra-se necessário a nível familiar, escolar, profissional, acadêmico e político promover iniciativas de educação inclusiva, de conscientização coletiva e aprimoramento social para minimizarmos tamanha marginalização, terrorismo psicológico e possibilitarmos enfim que os alto habilidosos produzam contribuições para si mesmos e para a humanidade como um todo.

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Sobre Filipe Russo

Filipe Russo é indígena agênere da Associação Multiétnica Wyka Kwara, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012; 2022) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Especialista em computação aplicada à educação pelo ICMC-USP (2022), licenciade em matemática pelo IME-USP (2020). Fundadore e editore do website SupereficienteMental.com (2013-), blog com mais de 180 publicações, dentre relatos pessoais, ensaios e entrevistas, sobre neurodiversidade e superdotação ou altas habilidades. Pesquisadore no grupo de estudos TransObjeto associado à PUC-SP e no grupo de pesquisa MatematiQueer associada à UFRJ. Coautore nas antologias poéticas Poesia Política: vote, Outros 500: Não queremos mais o quinhentismo, poETes: altas habilidades com poesia, Fotoescritos do Confinamento e recebeu menção honrosa pelo ensaio Desígnio de um corpo, na 4º edição do projeto Tem Livro Bolando na Mesa. Filipe possui aperfeiçoamento em Altas Habilidades ou Superdotação: Identificação e Atendimento Educacional Especializado pela UFPel e em Serviço de Atendimento Educacional Especializado pela UFSM (2022).
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3 respostas para Comorbidades: Complexo de Superior & Inferior

  1. Romes disse:

    Muito boa postagem. Sou Romes, administrador do blog “Gênios Mirins”. Gostaria de parabenizar o companheiro pelo post! Realmente, a ausência de coesão social do superdotado com o seu grupo é, na maioria das vezes, a semente para o nascimento de complexos de inferioridade e superioridade.

  2. Darrin Letman disse:

    Hi, just wanted to tell you, I loved this post.
    It was practical. Keep on posting!

  3. Michael disse:

    Ótimo texto ao ler me identifiquei bastante eu me sentia diferente na infância , criativo sedento por aprender coisas novas era taxado como autista , retardado por anos me senti inferior e sempre tive muita facilidade para aprender sozinho não tive muito estimulo para me desenvolver hoje me sinto frustrado e limitado e muito ansioso com um tédio constante tenho habilidades de liderança e resolução de problemas
    Parabéns pelos seus ótimos artigos

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