Pensa-se, sem o devido senso crítico, que um sobredotado, por definição, ostenta categoricamente um status de sucessos acadêmico e profissional. Tais pensadores não tão ilustres assim desconsideram as barreiras monolíticas de origem estrutural que as instituições neurotípicas impõem a todos os seus membros, em especial os neurodiversos, um ótimo exemplo para ilustrar meu ponto se chama subrendimento, o mesmo configura uma ameaça real a todo e qualquer indivíduo inconformista, apenas aos bitolados se abre a porta para a próxima fase do labirinto social. Procura-se funcionários inteligentes o suficiente para operar o maquinário repressor, mas não inteligentes demais a ponto de questionarem as mecânicas de poder e frente a tal desestímulo intelecto-cultural o superdotado não raro abre mão de oportunidades que inevitavelmente o levariam de oprimido a opressor.
Todo neurodiverso apresenta necessidades especiais pertinentes a sua classe cognitiva em questão, o sobredotado por sua vez apresenta necessidades especiais de caráter acadêmico e profissional, intelectual e emocional tão ou mais importantes do que qualquer concepção mesquinha de sucesso social. Não nos venda suas promessas vazias de campanha política, não queremos paliativos e sim medidas efetivas que de fato nos empoderem, precisamos de representatividade e protagonismo nos meios midiáticos e não mais uma performance circense para o alívio das massas, alimentar essas quimeras mitológicas só desmerecem nossos méritos, defasam a opinião pública do fenômeno neurodiverso assim como abafam a pouca voz que temos nas ruas e domicílios.
O sobredotado portanto recorre aos poucos instrumentos à mão: tenta ora uma acomodação (enriquecimento curricular, aceleração escolar, agrupamento), ora uma alternativa (supletivo, ensino à distância, cursos profissionalizantes). Muitas vezes seu potencial míngua e sai bem na fita apenas os mais alinhados aos valores pseudo-meritocráticos do sistema vigente, obrigado sociedade! Muitíssimo obrigado família tradicional brasileira por exigir tudo e não dar nada.