A superdotação tende a ser escamoteada ora por exames errôneos, ora pela extrema parcialidade dos avaliadores que logo buscam enquadrar o indivíduo num quadro clínico mais tradicional e assim se desenvolve complexos processos de invisibilização e apagamento, onde encontrar enfim representatividade e protagonismo neurodiversos? Comecemos pois esmiuçando um pouco a problemática em questão, só então esclarecidos poderemos nos reconhecer ao espelho e nas calçadas rua a fora para em seguida reivindicar efetivamente nosso locus social.
A SuperInteligência do Superdotado e suas flexões (agitação física e psíquica de caráter distrativo/concentrador) diferem da sintomática referente ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sendo este último uma condição neurodiversa à parte da primeira, há a possibilidade da sobreposição de ambas no mesmo indivíduo a configurar uma dupla excepcionalidade, entretanto tal caso não é via de regra. Confunde-se a prolixidade involuntária do segundo com a polissincronia do primeiro, enquanto um portador de tdah vive tropeçando em ramificações, o sobredotado tece, desfia e realinha seus interesses de modo premeditado com um propósito mais ou menos bem definido, quando não ao menos intuído, nesse sentido o mesmo não se vê lesado por um descontrole cognitivo, pois se descobre coordenador de processos metacognitivos.
A SuperSensibilidade do Superdotado e suas flexões (oscilações de humor, intensa reação emocional aos estímulos internos e externos, baixo limiar percepto-sensorial) diferem da sintomática referente ao transtorno bipolar, pois no último se observa um desequilíbrio conformacional dos humores e pensamentos devido a causas ora neuróticas, ora bioquímicas a acarretar prejuízo funcional e não diretamente correlatas a uma alta plasticidade e interconectividade do sistema ora percepto-sensorial, ora cognitivo-emocional. Ou seja, o supersensível não se desregula ilogicamente, sofre oscilações semelhantes, porém raro equivalentes as de um portador de transtorno bipolar. Há uma forte resistência socio-profissional em se aceitar um indivíduo neurodiverso em seu amplo modus operandi divergente e quando digo divergente, não me refiro a ‘ser do contra’, ‘ser do contra’ é uma mera reação passivo-agressiva de um indivíduo que não possui o instrumental ou a boa vontade de verbalizar com todas as letras seu posicionamento, um resmungo motor em outras palavras, divergente no âmbito deste blog se refere a qualquer via de ação e reação diferente, equivalente e alternativa quando comparada ao senso comum, este agir no mundo de modo tão singular quanto o que se é configura portanto a divergência neurodiversa. No comportamento e fala emergem flutuações da turbulência interior, que agora externadas compõem um fenômeno observável pelo transeunte e não mais exclusivamente íntimo.
O Perfeccionismo do Superdotado e suas flexões (completismo, cronometria, integração, essencialidade, microcontrole, finalidade e materialidade) diferem da sintomática referente ao transtorno obsessivo-compulsivo, o segundo configura uma patologia ou comportamento patológico de origem majoritariamente neurótica devido ao prejuízo funcional proporcionado, a preocupação aqui reside em obedecer a forma e não há um primor pelo conteúdo, não se observa devidamente um senso estético com sua virtuosidade e prazer correlatos, mas sim uma força patológica desviando o indivíduo do seu bem-estar. O perfeccionismo do superdotado pode surgir como um traço de sua personalidade ou como uma escolha de vida quando não associado a um prejuízo funcional regular, se carateriza sempre pela instrumentação do mesmo, emprega-se tal instrumento nas atividades as mais diversas e diárias com uma preferência maior quando se trata de solucionar deveres domésticos, acadêmicos, profissionais, artísticos ou científicos, há portanto uma predisposição espontânea do indivíduo em dispender intensa e extensamente seus recursos na elaboração e execução de um plano de trabalho, o projeto envolve tanto o sobredotado que o mesmo pode sair e entrar em hiperfoco durante a execução ou planejamento.
Entendi, o superdotado é suprassumo, enquanto os outros possuem lesão. Tenho a impressão que estas são respostas um tanto quanto simplórias para uma realidade tão complexa, ainda mais tratando-se da mente humana. Se não compreendeu as potencialidades da individualidade humana e ainda enxerga as coisas como uma questão de hierarquia, como se as pessoas pudessem ser avaliadas por uma régua… Não compreendeu coisa alguma!
A título de elucidação vos aconselho a leitura de outros dois ensaios do SuperEficiente Mental que talvez lhe forneçam um parecer mais completo sobre os tópicos em questão:
1) Neurodiversidade: Uma Postura Política
https://supereficientemental.com/2015/11/07/neurodiversidade-uma-postura-politica/
2) Controvérsias: Xenofobia Neurocognitiva
https://supereficientemental.com/2015/12/19/controversias-xenofobia-neurocognitiva/
só vi sua resposta hoje, quando estava mexendo no wordpress. integre o discus ao seu site, ai a pessoa recebe as notificações de que foi respondida.