Por Empatia entenderemos o exercício afetivo e cognitivo de interagir com os demais tendo em vista na interação tanto a perspectiva de si quanto a do outro, ou seja, o ponderar de ações e palavras não apenas na posição de emissor das mesmas mas também como receptor hipotético delas. Assim ao interagir com alguém simula-se o outro não somente para antecipar ações e reações, mas principalmente para reduzir qualquer possível atrito a um mínimo durante a operação do mecanismo dialógico. A civilização ou o processo civilizatório emerge dessa dança, desse diálogo com o outro, quando se estabelece mútuos acordos burocráticos para a manutenção de uma paz, de um escambo justo e assim troca-se a pedra e o galho pela palavra, pelo documento verbal, oral e escrito; um ato de boa fé.
Vivemos entretanto em tempos onde muitas vezes troca-se a aproximação com outrem por frases feitas, por monólogos ensaiados em comerciais de detergente e essas mecânicas de superfície carregam consigo um custo operacional que afasta a realidade distinta da nossa, que escamoteia nossos verdadeiros anseios e pesares, ou seja, aliena. Para ver alguém como um sujeito tão real, importante e singular quanto eu mesmo vagando por aí sem prestar cortesias a minha existência requer reposicionar o universo para fora de mim e aí sim pela primeira vez ver a realidade não mais como uma extensão do meu ser, mas como ela mesma é: uma vastidão indiferente e incomensurável. Mas apenas na medida em que não estabeleço contato, pois uma vez que dialogo derrubo uma parede, construo uma ponte e talvez essas passarelas que construímos para nos conectar uns aos outros não se encaixem tão bem num primeiro momento, quem sabe nem num segundo, porém de nada me serve viver só e ilhado por meus reflexos de mim em mim.
Estendo portanto à mão para a (neuro)diversidade e entendo empatia como elemento necessário à cultura e à educação. Uma cultura que não opera mediante uma bússola empática eventualmente nos leva a alguma xenofobia, a algum discurso de ódio, pois em sua fome por existir e se alastrar as culturas possuem um instinto de sobrevivência homicida, de dominação vegetativo que não contempla os anseios da contemporaneidade. Precisamos portanto reformar a cultura na qual fomos cultivados e remodelá-la segundo novas propostas, novos objetivos e assim minimizar o sofrimento humano. Agora quanto à educação creio ser necessário o fim da linha de montagem, precisamos parar de esquartejar a juventude a fim de encaixá-la em uma embalagem de detergente, corta-se as asas dos alunos e depois se reclama que os mesmos não formam vínculos construtivos com a comunidade da qual participam cada vez menos proativamente. Uma educação empática valoriza o interesse, a curiosidade e o prazer do aluno não só ao aprender e estudar mas também ao construir e criar conteúdo intelectual relevante para si e para os demais.