Por Neuronormatividade entenderemos atitudes e códigos neurotípicos de caráter normativo e normatizante, onde tal norma não contempla os direitos e interesses neurodiversos. Portanto a neuronormatividade encerra um modo de pensar restritivo e homogenizante ao represar, estagnar e esterilizar idéias e comportamentos divergentes. Já a Clivagem Social se caracteriza por reduzir o alcance e a influência de um indivíduo em um dado contexto interpessoal, ou seja, a própria potência individual se vê sabotada pelo arbítrio alheio.
No silêncio neuronormativo opera-se sonambulamente uma série de clivagens sociais, onde eventualmente o oprimido almeja o status de opressor e assim replica antigas opressões com novos requintes de crueldade. Uma vez descrente de seus talentos e idiossincrasias o neurodiverso se vê incapaz de resistir ao endeusamento e à hostilização compulsórios de figuras autoritárias, à tentação do poder hierárquico e estrutural. O maquinário repressor converte suas vítimas em sacerdotes obedientes, reforçadores de suas políticas perversas.
Nós, neurodivergentes, vivemos em constante estado de alerta, atentos aos toques de recolher, o ressoar das sirenes; sobrevivemos silenciados por um apartheid não declarado, vítimas de uma tradição inercial que não permite o convívio pacífico, muito menos o reconhecimento amplo e pleno de nossa natureza singular. Ou seja, somos invisibilizados e inviabilizados, reduzidos a meras sombras do que poderíamos ter sido caso fôssemos vistos pelo que somos; reivindiquemos pois nosso locus social, precisamos assumir nosso posto de Agentes Sociais e não simplesmente entregar de mão beijada nossos direitos para o abatedouro. Só o neurodiverso pode representar com fidedignidade e legitimidade nossa causa.
Privar-me-ei do que vi que devia ter não visto?
A máquina carrega a fonte
E a protege com A VIDA ALHEIA
O maquinista, pela avenida, transgente
Conduzir-á-á tudo isso todos, incendeia
Os fígulos semeiam sua absorção tenaz
Com-criam suas dívidas inerentes de nunca
Soa tudo, nada ninguém sente
Sou eu não POR MAIOR FAVOR MUNDO-HÁ.